quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

New Year

Ainda de cordão umbilical fresco e por cicatrizar, nasceu o ano de dois mil e catorze. E, com ele, a recontagem dos dias. Dá-me vontade de sorrir esta ideia de que a sociedade se alimenta (sem questionar) de todas imposições calendarizadas e de datas e horas e fins-de-semana pré-agendados. Ficções sociais, como um dia alguém disse. Pouco importa se Domingo nos sentimos mais produtivos e com disposição extraordinária para trabalhar; porquanto o expediente dita a mecânica a cumprir. Mas por muito tempo que haja por vir, embotará alguma vez este conceito de situar as coisas? Coordená-las temporalmente. Esta ideia de agrupamento impositivo: fileiras semanais para os dias se sentarem nos devidos lugares marcados, como se o tempo fosse coisa de ir ao cinema. Mas é chamar-lhe Janeiro, dizer quarta-feira e já agora fechem-se as repartições, o comércio tradicional e os outros serviços que hoje é dia de descanso. Por isso a ti, Ó Primeiro, toma um pacote XXL e aproveita bem o milho porque um dia não são dias. Aposto que, no que diz respeito a estas «demandas» (como ditara Kennedy que «consumidores somos todos nós») o ano que vem será com certeza igual a este. A partir de certa altura os pés deixam de crescer-nos e passamos a calçar sempre o mesmo número. Pouca coisa se altera. E do impensável não se discute. Nascemos habituados à sapiência ancestral e às tradições. As décadas vão sucedendo-se e aclarando alguma evolução e nem eu já dedilho as capas dos vinis; eu até sou da geração dos CD e eu até fui reticente em abandonar a colecção em prol da busca virtual e dos lyrics fora dos livrinhos quadrangulares. Gosto muito deste efeito boomerang, extremamente rápido, de escolher e receber músicas via web, partilhá-las e surpreender-me que são recebidas por um público muito distante daqui. E eu agora já não quero outra coisa. Eu agora até acredito que a intenção dos Beach House foi que de trezentos e sessenta e cinco em trezentos e sessenta e cinco dias pintalgássemos as redes com esta música porque, diga eu o que quiser, o que é certo é que o ano é novo e vem a calhar ouvir New Year.