sexta-feira, 12 de abril de 2019

Why She Swallows Bullets and Stones


Preparar uma viagem com palavras que transitam, como comboio, bilhete. Ela engole balas e pedras para cuspir palavras mais altas, como sonho. A minha boca inteira com uma voz secreta para palavras que não saciam, como meias-flores. Palavras com estilo louco, e desejo dourado, como o dragão que te afoite. Palavras de um doce veneno, como juramentos com lacre de mel ao centro. Palavras a remexer pinheiros, como o vento da noite. Palavras a rodar no sangue por dentro. Palavras que te matarão ante o espelho do olhar.

Segue o Seco


Sexta-feira é dia de ter tempo para me inspirar com tudo. Palavras ainda livres sem dicionário. berimbau da capoeira. O homem prestes a dançar. A goteira da Primavera. Podes não acreditar, mas este céu muge trovoadas que se aproximam. Os brasileiros são génios na arte das melodias com versos. As composições que se fazem: "Ó chuva vem me dizer, Se posso ir lá em cima pra derramar você?" Sinais de um infinito onde não se pode morrer. É só vida a nascer, desvairadamente.

The Good, the Bad and the Ugly


O bom, o mau e o vilão todos na mesma pessoa. EleEscolhemos uma maneira de nos posicionarmos. Com ele, ou contra. Depois, assobiamos para o lado. Talvez fossem melhores as noites de anteontem. Quando estar preso tinha outras serventias. O exílio moribundo. E aberta a caixa de Pandora, não fazemos nada além de olhar e comentar. Escribas vivos mais mortos do que os mortos. Ou procuramos alguém que nos renda. Em informática, renderização é também colar, para ficar em pandã comigo. E seria uma espécie de tradução para outra linguagem, ou, simplesmente, o que esta orquestra fez.

Mille Baci


A propósito da redução de plástico em Itália. Medidas drásticas a bem do bem dos oceanos e da terra. Quando morrer, este planeta morrerá comigo. Ficarão os outros com ele. Com mais ou menos lixo. Mas não pensemos em lixo agora. Coisas sérias não trazem poesia. Pensemos antes, num levedar de beleza. Para nós, com palavras incomuns. Numa história muito bela. Com rituais ao acordar. O mar límpido a chegar à praia, e o sol a despontar no céu. E onde as palavras, sem palavras, te beijem mil vezes. 

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Ocean Bloom


Open your mouth wide   |   Abre bem a tua boca

           A universal sigh   |   Um suspiro universal

  And while the ocean blooms   |   E enquanto o oceano brilha
     It's what keeps me alive   |   É o que me mantém viva
        So why does this still hurt?   |   Então, porquê que ainda dói?
            Don't blow your mind with why   |   Não te esgotes a pensar no porquê

      I'm moving out of orbit   |   Movo-me fora de órbita 
             (Turning in somersaults)   |   (Virando-me em cambalhotas)
             Turning in somersaults   |   Virando-me em cambalhotas
                            (A giant turtle's eyes)   |   (Os olhos de uma tartaruga gigante)
                            A giant turtle's eyes   |   Os olhos de uma tartaruga gigante
   And jellyfish float by)   |   (E a medusa flutua)
  And jellyfish float by   |   E a medusa flutua

domingo, 7 de abril de 2019

Nara


Vinha falar dos veados de Nara. Mas há outros lugares para ver. E sol a sol, a composição a nascer. É sempre o mesmo desenho em cima do papel, com as linhas ideais. Mas é preciso a cera e o fogo para arder. Não há imitação para estes castiçais. Só fogo rima com fogo, nada mais. E dedo a dedo nas cordas, diz a canção: Love is the warmest color. Os meus versos a descer a colina. Ponto a ponto, o ardor da condição. E a obra em vapor a acender-se por cima. 

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Improvisations


Improvisações em concerto. Há um certo ruído de fundo. Mas é quase água cristalina provinda do céu com o vento de Março a não querer sumir até ao ano que vem. Às vezes, também não tenho vontade de ir para casa. Fico a conversar até tarde nas soleiras das portas. Gosto de te ouvir entre o ruído do trânsito com a luz dos faróis a esconder-te a cara. Ficas semi-invisível. Era a minha ingenuidade apesar da hora, sem sol, para improvisos. E o tempo a interromper os melhores textos da noite. Sempre com a delicadeza de quem fecha mas não bate as portas. 


Aqui, mais improvisações de dois amigos que não se vêem há 2 meses. E, como podes ver, o tempo às vezes é um rio que não existe. Chegas, sentas-te e começas a tocar. Como se a vida fosse feita de momentos em que te trago a minha história e em que recebo a tua. Resumimo-nos ao que somos: água e palavras. Tão natural como acertar nas teclas do piano, sem trazer nada preparado. Podes gostar ou podes não sentir. É a condição da sorte que a esquina da rua oferece. 

Time



Tempo. Tenho passado. Tenho-o passado. E vou. Com ele. Com tempo. Contigo. A vida é um tríptico acerca disto. Em três dimensões. E a tela que está a meio é: agora. À esquerda, o passado. O passado a morrer de todas as vezes que esquecemos. E morre também sempre que nos lembramos que o tempo passou. À direita, podia estar em branco. Ou a preto, a cor de antes de nascer, para pintarmos por cima o que houvesse. Os outros ficariam maravilhados, se soubessem. Mas era uma vela de vento, à direita. De tempo, levando-nos. E, com tempo bom, trazendo-nos de volta aqui. Agora. Ao centro de tudo, de nada, do tempo contigo, sem tempo nenhum. 

Por vezes, o poeta é também pintor.
W. Szymborska 

Meeting Again


Nomes. Sombras. O osso para o movimento. E às vezes, detidos como pedras nos rios, enquanto eles correm. Às vezes, os olhos no fundo sem verem o mar. No fundo das águas, bem fundo no tempo. Os olhos, na porção de caminho que os leva. Nomes. Figuras. Mas, por dentro, a matéria do poema. Almas em delírio, mais fortes do que nós. Almas que gritam, mais alto do que nós. Senti dentro do silêncio. Sorri sem que os teus olhos vissem. São corpos estranhos que me confundem. Sem mãos que me assistissem. Sem vozes, cem vezes, me anuncio. Sem corpos, onde somos mais nós.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

On Reflection

Era isto que eu dizia. Os estorninhos em bando como cardumes pretos, correndo a mudar de direcção. Mas em vez da água... o ar. Aquele meu terreno para lançar o pensamento. O espírito primeiro em alturas a chamar o corpo para me transportar para um outro lado. E era isto que eu dizia que era mágico. A massa dos passarinhos vivos num movimento compacto. Milhares a decidirem por um. Porque se isto não é Deus... então... eu não sei mais nada. O brilho do céu sublima. My gaze as above, as I can be. Que lugar de glória, de anunciação, de movimento... Tremendo. Mas que não podemos tocar. 


This is what I was saying. Starlings in flocks like black shoals, running to change direction. But instead of the water... the air. My ground to launch the thought. The spirit first at heights to summon the body. This, to transport me to another place. And this is what I said was magical. The mass of live birds in a compact movement. Thousands deciding as one. Because if this isn't God... then... I don't know anything else. The glow of the sky sublimates. My gaze as above, as I can be. What a place of glory, annunciation, movement... Overwhelming. Although we can not touch.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Varúð


(E na sua linguagem, as lanternas diziam:)

It doesn’t matter what I say The only thing that matters is how you feel Understanding that the words are irrelevant is of great importance What feelings do you have.

terça-feira, 2 de abril de 2019

Penn ar Lann

Press play. Podemos ouvir as gaivotas de Tiersen que grasnam como as outras. Fazem parte da ilha, como um barco à vela onde morasse. 'Ushant is more than just a home, it’s a part of me. The idea was to make a map of the island and, by extension, a map of who I am.' E o caminho promete chuva mas não se há-de notar muito. Da janela é o que se vê lá fora. Tudo parece menos nítido com neblina. São vapores húmidos e a mistura do silêncio de baixo a surgir à superfície. Ainda ontem as ondas valentes a cair de chapa. O abismo das grandes vagas mas não hoje. Hoje, os pingos de um céu a conta-gotas. E a seda das águas a tapar os buracos, instantaneamente. Quase nada interrompe a ordem das coisas. As asas das aves quietas. Mas a esses lugares chega também o silêncio da noite. E a luz do farol a cortar uma roda ao mar. Entre um lado e o outro. A abrir a palavra.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Soothsayer

(By definition) a person supposed to be able to foresee the future. Como os filósofos. Filosofar é pensar além do que sabemos e do que não podemos saber. Levar a cabeça à frente, depois podemos acertar ou não. E antes do futuro vir, antevê-lo idealmente. Mas nunca nada é a mesma coisa. Nem o sonho se decalca no presente. Ou algo mais material: as marcas de tinta que o papel químico deixa no original. Até a mesma ideia fica mais bonita se dissermos noutra língua: Philosopher, c'est penser plus loin qu'on ne sait, et qu'on ne peut savoir. E fica diferente. Por definição, o que pensamos é maior do que o que existe.