sexta-feira, 26 de junho de 2020

Moon River


Depois da Audrey, uma versão mais contemporânea a dizer o mesmo poema. Cheio de amor. Ou cheio da falta de amor num mundo cheio de coisas muito sólidas de matéria. Tirando-me do sério. Coisas muito materiais essas, sem sonho, sem o nosso tempo, sem partilhas de nada. Há porém outras que somente flutuam. Como um lenço de seda ao vento com um nó rente ao pescoço. E olhamos em frente sem nos vermos. Era um encontro de angustias caminhar e não encontrar nada além de breves momentos com hora marcada para acabarem. Queria outro brilho para trazer ao meu lado na vida. E teria sempre à noite a bola da lua no rio. Era a minha visão de paraíso certo na terra, até outro dia, uma nova versão me bater à porta.

domingo, 21 de junho de 2020

Dindi


Azul pintado de azul. Dizia em Volare, num outro poema. Aqui é muito a mesma coisa. Porque não há céu sem azul. E bandos de nuvens que passam ligeiras. Acho que justamente porque o Verão chegou, é sempre bom repetir que o verão chegou. Também posso dizer que Dindi era uma fazenda no Brasil e só parecia um nome de mulher.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Habibi


Deixar para trás. Light is burning, as I am burning. E escorrem os leitos das árvores. Aqui ao pé da praia, luzes de natal embrulhando os troncos. E era tão cedo... O crepúsculo vem à hora do crepúsculo. Mesmo que te queiras esforçar por ter tudo antes. E será como treinar em vão. Reforçar o músculo. A aurora é mais uma cor no sentido do começo. Onde tudo muito claro, puro. A lua no sentido de brilhar no escuro. E tudo na luz a mostrar-nos tudo, Habibi. 

terça-feira, 16 de junho de 2020

Cold Little Heart


Há corações pequenos e frios. Outros maiores, enormes. O coração leva-nos ao que queremos. E a sermos quem devemos. Algo que se tem em comum. E não é uma generalização. É um facto todos termos coração. Podemos não ter algum membro, cabelo, mas todos temos coração. O problema é que a pele é o órgão maior. Mas que importa a pele? Parem, escutem aquele concerto. 

sábado, 13 de junho de 2020

T r ê s T r i s t e s T i g r e s

A banda portuguesa que esperei ver renascer e que conseguiu surpreender-me este ano com Mínima Luz. As letras continuam a ser fragmentos de ideias ligados pela voz de Ana Deus, uns pontos ora mais graves, ora outros mais agudos, numa harmonia irrepreensível de versos surrealistas da Regina Guimarães com contextos afinados na intensidade do som produzido e até suspirado por Ana Deus, em Língua Franca. Num sentido mais encorpado de evocar a natureza, a linguagem, o tempo, e o Criador de tudo, personificando alguns dos elementos de passagem no final: Cada folha sol dizia/ Cada pedra cantava./ Correndo a água narrava (...) O vapor pavor contava/ A neve chamava o cume.


Em Curativo, o prelúdio acústico ainda em registo poético Diz quem procura uma cor/ Que ela há-de cair do céu. Tudo bem acompanhado pela guitarra eléctrica de Alexandre Soares. Tema que leva uma camada extra com a original introdução de uma harpa para encantar até os (corações) mais distraídos.


Mais atrás, nas EA Sessions de 2017, um pequeno encontro intimista revisitando o Guia Espiritual para auscultar o efeito das duas décadas sob alguns dos principais temas da carreira TTT. Sinta-se aos 11 minutos, os anos 90 bem medidos numa interpretação amadurecida e inspirada de Zap Canal, versão um pouco mais turva fora do estúdio. A roupagem da faixa é mais sofisticada, porém, o corpo é o mesmo. Glória a Deus Pai/ Na baixeza, os fracos à sobremesa/ Paz na Terra Mãe/ A cabidela dos fortes digere-se muito bem. E o bem que umas décadas podem trazer a quem do talento faz pop-rock alternativo.


Na minha opinião, um pentágono de estrelas intemporais. 


Why Don't You Do Right?


Esta, que muitas bocas já cantaram. E uma boneca em versão menos polida. Esta, fúlgida voz-clarão, a quem nada se compara. E o poema transporta suas ideias. Os elementos que se apresentam são poucos: no palco, o piano, ela, o microfone vintage e tudo à meia-luz. O joio é a mulher-alfa que não seduz mas pede: Why don't you do right, like some other men do?

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Língua Franca


No agora de outrora/ depois da terra arrefecer. No instante entre vida e ser. Na aurora da forma. E a música a acontecer. No crepúsculo das coisas mais pequenas. Das coisas vivas, da natureza dizer. Das árvores em redor. Do tempo, de nós, de tudo. Do céu mais claro, mais puro. De ver que é o amor.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Mer de Velours




E se hoje fossemos até à praia? Para ficarmos outra vez, algum tempo, perto do mar. Como no outro dia. Algum tempo. Não sei o que seria ficar por muito tempo ali. Isso é apenas matemática. E importam-me mais as pedras da areia que eram muitas, a água. Tantas moléculas a perder de uma vista que não as vê. E da toalha, o céu extenso e imensamente azul. Muito vagaroso, muito cheio de tempo. Na esplanada, que já reabriu, aposto que muitos pensamentos sobre nada, somente para passar o tempo. 

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Medo



O medo mora comigo. Mas não morava em Amália. A casa era um grito profundo. E esquecemo-nos de quem escreveu o texto. Pois não há texto. Há uma alma em palavras a arrastar o mundo inteiro. A trespassar o infinito. Um grito sem fronteiras, cheio de reflexos. De brilhos sem sombras. E o piano a levá-lo, somando dois tempos, unidos e vivos (o R de Resende e o R de Rodrigues), na obra eterna do som. 

"Não tenho medo da morte, porque tenho fé e, sobretudo, lucidez. 
Sou frágil nas pequenas coisas, mas forte nas grandes.“ 

Amália Rodrigues

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Hyperballad


Tomar de empréstimo uma cançãoWe live on a mountain. Right at the top. There's a beautiful view. From the top of the mountain. Porque o amor se reinventa, e se serve de várias formas. Pela trama junta pelo tear, pela malha desfeita pelo fio de ouro. Há o vermelho do fogo, e o vermelho de sangue, e a cor amor que enlouquece. I go through all this. Before you wake up. So I can feel happier. To be safe up here with you. E, no fim, escapar.

terça-feira, 2 de junho de 2020

Where is My Mind


With you feet on the air and your head on the ground. Saberás ainda que nos contaram a história ao contrário. Poucos são os que aprenderam o que o tempo em fuga diz. Sabemos que os figos estão maduros. Continuo na ideia de me sentar em frente às teclas pretas e brancas. Que desmedido amor por tudo o que não sei. Por ver o rio sem marcas dos barcos que passaram, e pelos demais caminhos. Como se fosse ousada a volúpia de predizer em poemas. E o êxtase de jurar o futuro, sem usar palavras.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

The System Only Dreams in Total Darkness


Talvez sejam um ou dois corpos que simulam no escuro. A falarem com Deus. Talvez haja um espaço para isso sem sabermos. Talvez tudo venha da terra de onde nos nasce o sangue e a fome. Depois, um inútil sono de várias horas. E queria mais luz. Mais dia para escrever sobre a oportunidade de dizer estes mistérios de o sistema sucumbir dentro da noite. I can't explain it in any other way.