domingo, 28 de fevereiro de 2021

Upside Down

 

José Luis Borges estava certo quando disse: “No se puede contemplar sin pasión“. Portanto, eu, contemplo apaixonada a vida. Não há outra forma para encarar tudo isto. E olhar deve ser uma sucessão de pausas, de espanto, para se desvendar novamente um outro lado. Fevereiro, esta noite, em metamorfose, abrir-se-á em Março, de encontro à luz. Para arrancarmos borboletas das árvores e de dentro de nós. De maneira que, ainda neste Domingo, decidi escrever-te. Dizer-te que deste lado da terra, mais ao centro, o dia se acende quente. Há um punhado de Sol num lugar particular, como num poema. Há um vulcão invertido, uma cratera em chamas, um incêndio rasgando esse círculo no canto superior. Temos de aproximar o ouro dos olhos, brilho sobre brilho. E levantar a cabeça ao alto. Assistir a esse fogo. Por outras palavras, aproveitar a bola incandescente que principia continuamente no céu. E então, dizer-te sobre as tardes em que, aqui ao longe, uma nuvem cai inteira de cima. Dizer-te do cheiro africano, da terra vermelha. Primeiro húmida, depois muito seca – com esse chapéu inacessível que lês para ti; uma sombra circunflexa, fruto da tua atenção às minhas palavras. Antecipando uma espécie de esperança, porque mesmo que chova, tudo fica mais sério depois. E agora temos dias diferentes. Olho as águias em Kampala e a amplidão das suas vistas. E mesmo à distância, reconheço outros sentidos que fizeste em mim. E, por falar nesse ardor, já te falei na dispersão da grafite em brasa? Era assim sempre que te lia. Lembrei-me das paisagens de Salamanca. De nos perdermos com a tonalidade amarela das flores. Como se a terra inteira em grãos tivesse ali desabrochado, num silêncio luminoso, levemente interrompido pelo vento, e algum carro veloz a passar na auto-estrada. Eramos eu, tu, e o abismo do prado. A nudez das flores, magnética a espelhar o céu, deixando tudo tão claro, como agora, para virarmos o mundo ao contrário.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Minina di Céu

 

Escuta só. Hoje é mais di cedo. Eu vivi meu sonho. É para conquistar céu. Dou-te o corpo dançante. Assistes, de longe, em atenção. Contigo, não consigo só andar. O mundo depende de quem nos segura a anca. E foi assim, desde do dia um, de pé na carruagem. Espero que me voltes a tomar a cintura com as mãos. Espero ainda a renovação dos teus olhos ao Sol. É tempo di conquistar céu.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

You Don't Understand It

Era sobre o ouro do outro dia. Duas vezes mais natural e três mais largo do que a vida. Porque brilhávamos. Ou eras tu, daquela maneira tão tua, que me iluminava também. Fazendo-me rainha. Uma iluminação sem sombras. Radiosa e preciosa de espíritos livres. Já tinha escrito sobre a outra canção mas fui dar a esta. Agora é agora. I just run away from you. Há sempre caminhos impossíveis para correr atrás.