domingo, 31 de dezembro de 2017

Amar pelos Dois

Bonito é isto. Antes que 2017 termine. Estava a pensar que os anos são como os alvéolos das colmeias, vão-se repetindo, doces, alinhados, perseguindo-se, uns após os outros. Foi um ano bom, cumprido, muito cheio. Um ano que me deu orgulho. Um ano de decisões fortes. E percebi que o estar muito tempo longe do nosso país nos faz querer vivê-lo mais. Eu que estou sempre pronta para encher as minhas malas. Mas ainda é cedo. Agora está 2018 a chegar e é preciso recebê-lo e abraçá-lo bem. Algo que posso fazer pelos dois. 



domingo, 24 de dezembro de 2017

Talking With Strangers

Véspera de Natal. Chego aqui, encosto-me ao que penso e escrevo. Sente-se o alvoroço das cozinhas. A ansiedade das famílias. Sorrisos que se antecipam. Agora, as luzinhas estáticas da árvore. O bolo-rei ou rainha ainda embalados; o queijo da serra; os frutos secos. Os embrulhos de surpresas em espera até depois de jantar. Tudo isto são as cores de Natal. E está aquele frio bom, sem chuva. Cá dentro está cozy, o melhor ambiente para falar com estranhos. 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Dark Side

Há uns dias era a playlist de viagem que me preocupava, de véspera. Sempre de véspera tudo o que me empolga a fundo. Nada com muito preparado, tudo feito um pouco em cima da altura em que tudo acontece. Talvez seja esse o meu dark side. O decidir por mim e fazer a seguir. Parece coisa pequena, frágil, ou até um ligeiro capricho de ir andando conforme só a mim apetece. Mas os 950 mais os 1000 quilómetros do dia seguinte fazem-me forte. O meu acordo com França ficou cumprido. E toda uma nova aventura já começou. 


domingo, 10 de dezembro de 2017

Cuba 1970

Uma música de Cuba do ano 1970. Não sei o porquê deste ano, provavelmente a celebração de algo para um dos Combo. Um aniversário, não se pode saber. Depois, a mesma canção com os dois do costume, mais a Royal Orquestra das Caveiras e ainda os outros instrumentos. Só para ouvirmos as diferenças das estrambólicas melodias que tocaram, daquela vez, no São Luís, com um conjunto de palmas no fim.


(e) 


quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Je Veux

Está a chegar ao fim a minha cruzada francesa. Eu quero ser feliz sempre. E, apesar das aprendizagens, dos desafios mais difíceis, é tempo de pensar no melhor que este tempo me deu: as pessoas que se levam daqui. Ou as memórias do que se viveu com as pessoas que se levam no coração, mesmo que não as tornemos a ver. É de Antoine de Saint-Exupéry esta frase muito verdadeira que diz que Ceux qui passent par nous, n'allez pas seul, ne nous laisse pas seuls. Laisser un peu d'eux-mêmes, prendre un peu de nous.


sábado, 2 de dezembro de 2017

Acrobat

Isto é dark indie. Bonito. Atmosférico. Uma canção de embalar que se diz encostada ao peito. Como na leitura de um livro de poemas. E tu deitado na cama a ouvir. Ou se estiver eu deitada, sozinha, a repetir as palavras. Há sempre aquele poema que relemos para nós. Que queremos engolir, decorando para ficar connosco. Ohh to be that distant thought/ Some growing meaning in your mind. E a guitarra de repente invade tudo, invade o vento, invade a noite, invade esse pensamento. E ouve-se assim: I am alive/ I thought that I died.

This Light

Esta música tem ares de Air. Mas é música belga do circuito indie e electro. Faz-me recordar as virgens de Sofia Coppola. Às vezes parece que não se consegue ver uma coisa a sós, com tanta outra coisa a si ligada. E as nuvens, o fumo, a quantidade de gente que, ao falar, solta uma nevoazinha que irrompe no ar gelado da rua. É como percebemos que somos corpos quentes que gostam de ser quentes. E apetece-me logo dançar.


If you stand the night in smoke
Not in the clouds
But you keep your eyes open that night
You keep your eyes open that night
As you're feeling in the dirt
And in the crowd
You keep yourself unconscience now
You keep yourself unconscience now
And you shut down all the curtains when the sun shines
Keep your distance from this light
You keep your distance from this light
You keep your distance from this light
Keep your distance from this light

If Only Tonight We Could Sleep

Agora que está ditado o fim de um Inverno longo longo, já que em França o frio se prolonga além do calendário, eu durmo melhor, mais aconchegada agarrada ao que quero e sem despertador. Então, tudo para a frente naquela folha branca que me olha de frente. Já algumas linhas escritas a bold, coisas que há por vir. Outras a marcadores de cores variadas, como tudo pela mão das crianças. E Lisboa quase sem distância. O futuro é uma coisa maravilhosa. Apraz-me pensar que sou mesmo dona da minha vida.


sábado, 25 de novembro de 2017

Tunglið

Tunglið é a palavra islandesa para dizer lua. Estava a escrever sobre viagens e comecei a ouvir esta canção. Antes, tinha aberto uma garrafa de cidra doce, daquelas que têm rolha de espumante. Fico com medo que me rebentem em cima, então, fecho os olhos e faço cara de quem vai cortar o pescoço de um galo. Antes, tinha estado a programar um concerto em Lisboa mas ainda não sei se vou. Tinha editado fotografias. Jantei vegetariano. Entretanto, caiu a noite, a cidra acabou, e esta música continua a tocar em loop. 


sábado, 18 de novembro de 2017

Nightswimming

Ah... a vida. Rir. E como é bom. Um grupo que se junta ali. Como é bom rir ao sabor do vinho e da comida preparada com a vontade dos céus. Dias como hoje. Tardes cheias. Gente que se encontra ali ao lado. E eu vou recordar Les Moitiers d'Allonne como uma ocasião sem igual, sem fotografias, e com appero em francês. Agora é hora de mergulhar na noite. Os olhos como estrelas e o coração cheio a fazer a cara engravidar sorrisos só por ser tão bom viver.

sábado, 11 de novembro de 2017

Paciência

Uma virtude que se baseia em controlar emoções. Mas além da paciência, podemos escolher pensar em vez de vestirmos a cólera, como fazemos em certos momentos, e trocar as emoções: pegar nas palavras certas para dizer. Às vezes penso e noutras não. É preciso tratar destas vertigens e puxar por nós próprios para trás. Às vezes penso longe. O cinema a abarrotar de coisas por aprender de outro século ou até deste. Mas que luxo ter os meus livros e algumas grandes frases já aprendidas dentro de mim. Que importante é isto que Mohammed Qahtani diz. E que importante é também não deixar cair a dignidade, ajudar os outros a serem honestos e todo o resto que no fim do dia nos deixa a sorrir. A vida não pára. 



quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Black Fly

Nobody said it was easy. E parece uma cover do Trans Fatty Acid dos Lamb (aqui na versão remisturada que eu prefiro) mas, não, porque - em Black Fly - a letra começa assim: No one said it would be easy. A orquestração das faixas cada uma contida na sua singularidade. Então vou investigar e encontro isto: Singular female vocalist shooting for the stars. E, às vezes, para uma noite ter estrelas é só preciso fechar os olhos e ouvir. Agora colava o desenho que imaginava já: um padrão de pequenos corações em fundo preto. As estrelas da minha noite, naquele formato, em vermelho vivo e a brilhar.


domingo, 29 de outubro de 2017

Words

Todos os dias me reinvento com palavras. Haja tempo. Por acaso, a hora mudou, e ficamos com o fim-de-semana maior. Mas hoje não vou deitar-me cedo. Mesmo que a lua se imponha majestosa neste céu, aqui, recheadíssimo de estrelas. Tenho de aproveitar este céu para pensar nas palavras que as estrelas me lembram. Sabes, a gente só tem que ser o que precisa. Há pessoas, como eu, que respiram melhor assim, com os olhos bem abertos a brilhar. Creating new paths and memories. E era isto. 

sábado, 28 de outubro de 2017

Take on Me

Dizer isto assim, sem bateria, tantos anos depois e com reticências no fim. Antes era o gelo para lá da muralha. Winter is coming, como dizia Jon Snow. Mas a muralha caiu e o inverno este século é tão ameno que andamos mesmo mais leves, por aí. De mão dada com a verdade, mas à espreita. E cada vez com mais cuidado. Falamos quase sem instrumentos, apesar de o ruído às vezes também ser bom. Faz o corpo mexer. De qualquer forma, como eu dizia: não está frio. A madeira há-de ficar guardada para o fogo da lareira, mais tarde. 


sábado, 21 de outubro de 2017

M'Bifo (Je Te Remerci)

Estava a escrever sobre o pôr-do-sol africano e, lembrei-me daquele pequeno poema da Rupi Kaur, que também combina com esta música e que fala de coisas enormes. Devemos agradecer a quem nos carrega o Sol e, ao final da tarde, nas tardes de todos os dias, o faz descer para dentro da linha que reparte o horizonte. E, se ele não estiver aqui, é porque está já ocupado a puxar o Sol para amanhã este se pôr, no lugar onde o céu se deixa corar.

I know I 
should crumble
for better reasons 
but have you seen 
that boy he brings 
the sun to its knees 
every 
night.


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Angel By The Wings

Esta semana, os incêndios continuaram a calar as serras. Calar, porque o vento não pára para falar com árvores sem folhas. Nem as folhas se desprendem em danças com o fogo. O Outono parece deixar de ser Outono. Agora em cinzas, depois do fumo que nos mudou a cor do céu até aqui. A Natureza ocupa-se em levar as cinzas para dentro da terra ou para dentro do mar. Mas um fogo até pode ser bonito: 

se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha – não te assustes
são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te
diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo – diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos

e adormece sem lágrimas – com eles no chão

E pedes aos anjos para murmurarem essa última canção. Depois, talvez alguém a enviar-nos a chuva. Ou os teus antepassados a pedirem a Deus essa chuva. Ou eu, com a força toda do mundo, sem acreditar em Deus, acreditando em mim. Ou tu. Porque seja o que for que venha, podes pensar que o tempo resiste sempre ao vento e tu, enquanto estiveres acordado, sabes que nunca haverá uma última canção. Look up, call to the sky/ Oh, look up and don't ask why, oh/ Just take an angel by the wings/ Beg her now for anything/ Beg her now for one more day/ Take an angel by the wings/ Time to tell her everything/ Ask her for the strength to stay./ You can do anything. Então pelas árvores que ainda temos, pelas folhas que esperam o vento passar, e, enquanto a chuva cair, devemos continuar a dançar.

sábado, 14 de outubro de 2017

Histórias

Há músicas particularmente felizes sendo tristes que me fascinam. Ainda assim, quando se sente a energia e o impacto de uma grande composição isso é um prazer tremendo. A convite do próprio, tive a sorte de assistir ao ensaio de um concerto que o Rodrigo Leão deu há uns anos no Algarve, depois voltei para o próprio concerto. Coisas nas quais vale mesmo a pena gastar tempo nesta jornada linda que é a vida. Entretanto, se perguntarem por mim, estou por ali a escrever as minhas estórias. Mas sobre essas ainda é cedo para contar. 


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

The House Where We Grew Up

O regresso ao passado é a nova malha da dupla Hammock. A atmosfera hipnótica mas subtil, de embalo, em nada mudou. Nesta trilha, mantém-se a leveza continuada da rede de descanso. Um olhar no oceano, prolongado, sem pressas. Talvez mesmo em câmara lenta, uma máscara em dia de nevoeiro ou, então, não se vê bem em frente porque já anoiteceu. Há sempre mistério nesta sonoridade. Canções que combinam com a voz de poetas. Herberto Hélder diria de uma casa-infância.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

We Might Be Dead By Tomorrow

Sokolinski de guitarra na mão, tendências algo sombrias a invocar a destruição, no entanto, sob uma forma melódica, frágil e emotiva. Uma espécie de Maria McKee nascida em França e numa geração mais recente. E dito, por ela, 'I have no life. I just love vegan ice cream and cats and romance and turquoise and sleeping and old notebooks and shooting stars and Netflix. And I may or may not be an Alien.' E, se amanhã estivermos mortos, será amanhã, não hoje.

domingo, 8 de outubro de 2017

Les Tulipes de Mon Jardin (The Perfect You)

Faltam violinos a acompanhar esta música quase perfeita, ou seria uma sinfonia. Só para lembrar que as pessoas da minha vida são também, por assim dizer, as tulipas do meu jardim. Tu, tu, tu, tu. A cabeça vai-se voltando em sentidos aleatórios. Mas do lugar de onde escrevo, sei perfeitamente a que caminho me entrego. É hora de brindar à natureza sem esquecer este lugar muito pessoal onde a viagem não termina porque as coisas com música têm outro encanto. A perfect start, a perfect end. / How lucky you are. 


sábado, 7 de outubro de 2017

Promise

Quem conhece The Gift entende que eu mencione a banda. Esta faixa traz algo do Concret. Mas haverá alguma canção que não nos possa levar a uma outra? A música é uma quantidade enorme de promessas. Uma correnteza de muitos rios diferentes e lágrimas adocicadas e chuvas tropicais e poemas perfeitos para nós e nuvens que desaparecem ao fim da tarde. Uma correnteza feita mar connosco lá dentro. Afinal também todos somos água.

Did You Really Say No

Disse 'Não' como uma palavra sagrada. Maiúscula. Respeitável. Porque uma palavra mesmo pequenina fica outra coisa em bicos-dos-pés. Então eu disse. Porque eu gosto das coisas altas: cabeças levantadas na rua, balões feitos para sonhar, papagaios a voar na praia. E, hoje, as asas do kitesurf entre um frio gelado, bonito. Porque tudo o que é colorido anima até o dia mais cinzento.   

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Smother

Hoje, para mim, a música mais bonita do mundo. Prestar atenção, senti-la. Saber que o belo dentro do triste é tanto mais belo e tão mais triste quanto o belo se sente triste. Uma loucura a espiral de entrar dentro de uma canção. Um prazer de personagem. E a vida é uma coisa muito maravilhosa. I want all that is not mine. Não me canso da redoma dos meus dias. Fico sem me mexer, obedecendo ao universo, em dispersão entre planetas. Como crianças nas barrigas das mães.  


I’m wasted, losing time
I’m a foolish, fragile spine
I want all that is not mine
I want him but we’re not right

In the darkness I will meet my creators
And they will all agree, that I’m a suffocator

I should go now quietly
For my bones have found a place to lie down and sleep
Where all my layers can become reeds
All my limbs can become trees
All my children can become me
What a mess I leave
To follow

In the darkness I will meet my creators
They will all agree, I’m a suffocator
Suffocator

Oh no
I’m sorry if I smothered you
I sometimes wish I’d stayed inside my mother
Never to come out

Imagining My Man

Imaginar a pessoa. Um ser humano que teriam de ser muitos. Na opinião de que cada um seria um espelho de alma para diferentes momentos. Eu não queria voltar para trás. Porque a felicidade ocorre em instantes. Nela há intimidade, medo e, principalmente, mistério. Depois, mais em concreto. Cada festa, cada carinho, cada abraço. Que começa e morre no seu tempo. O amor da nossa vida é todo o amor somado e esse demora; é o nosso tempo verdadeiro. 


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Ulysses and The Sea

Este som. Se eu soubesse mais sobre instrumentos eu diria mais sobre este som. Além de que gosto muito. Alguém que não vejo cambaleando os dedos. Uma espécie de dom alheio onde me recupero inteira e então há que aproveitar toda a melodia benigna que ali se faz por nós. Estes brinquedos de fabricar canções que nos retiram do silêncio se a sorte nos der silêncio. E que nos amarram em repetições, no outro mundo que se sobrepõe. Ali um grande bem-estar. Que alegria, às vezes. E se não tiveres quem te traga canções, apanhas um búzio do mar.


terça-feira, 3 de outubro de 2017

The Way I Fell Inside

Escondemos como nos sentimos. Longe e tão e tão perto. Eu tenho uma existência leve, limpa. Como uma nuvem que não se repara ao passar. Como quase todas as nuvens. Brancas, sempre brancas. Não reparamos que ali estão. Não notamos diferença de quando o céu aparece inundado de azul. E, com o tempo, não sabemos se era sonho, se era ausência, se era só alguém a pensar. Por dentro, sou uma parte-nuvem que não se vê em redor. 


domingo, 1 de outubro de 2017

Wanna Be Basquiat

Esta artista portuguesa faz-me lembrar o David Santos dos Noiserv por ser autónoma na elaboração do seu próprio som e vocals. Embora, ela seja um caso de multi-instrumentos mais digital, mais pós-rock, mais noise. Há pessoas que me levam a outras mas somos todos únicos apesar de haver seres verdadeiramente geniais. E dito isto, aqui Débora queria ser Basquiat. Outro talento incomum para as artes (que para ele foram várias) do grafite ao neo-expressionismo com uma passagem menos conhecida na música, porém uma parte crucial da sua pintura


sábado, 30 de setembro de 2017

Something in the Way

Algo no caminho. Time to move on anyway. As publicações no Instagram. Os roteiros. Vontade de visitar aqueles lugares franceses típicos como uma feira de gado ou as cabanas coloridas a Sul. De repente, lembrei-me daquela canção antiga dos Nirvana que também se chamava Something in the Way. Como as pessoas que conhecemos com os mesmos nomes que são, no entanto, tão diferentes. Há sempre algo no caminho e, como diz a Inês Menezes no Fala com Ela, 'há sempre uma resposta para todas as questões'. Hoje parece que vai haver chuva.



sexta-feira, 29 de setembro de 2017

The Words Under The Wood

Há uma diferença entre canção e música. E está no que se ouve agora. Se eu não gostasse de Sigur Rós eu não ouviria isto. Como daquela vez junto ao riacho e à pequena cascata em Porto da Balsa, quando eu ouvia a Natureza: os pássaros, a água, o vento, podia ouvir até o verão nas pedras ou na madeira aquecida a estalar baixinho. Havia até palavras que se levantavam. Ou então eu sonhava com elas e quase as ouvia despegando-se das folhas, dos troncos. Ficava com vontade de escrever poemas, de pintar, e de me regozijar com o tempo que havia para me dedicar a isso. A pensar que a realidade é o que se vive porque transpô-la é sempre uma vã tentativa mas nunca uma concretização. Mesmo assim adoro tentar a recriação do mundo. A arte é uma forma pessoal de sentir as coisas belas que criamos. E tudo não deixa de ser uma maravilhosa ilusão. Ceci n'est pas une chanson. 

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Daring to Love

Há pessoas que sabem perfeitamente a razão de virem pisar esta Terra. A personagem principal de A Thousand Times Good Night representa - de câmara em punho - uma mulher com uma missão. Mas a vida é feita de escolhas, de risos, de culpa, de orgulho, de certezas, de enganos, de sacrifícios, projetos. E de muito além disto, numa linha condutora chamada tempo. E é feita de tantos dias e horas e meses que, mais à frente, ao olharmos para trás vemos que, afinal, para encher o coração, só tinha sido preciso (em cada segundo, sem adiar e sem pensar muito) que nos tivéssemos atrevido mais.


Soothing

O respeito por nós próprios, pelos outros e a responsabilidade por todas as nossas ações é uma das regras de vida de Dalai Lama. Outra recomenda que se passe diariamente algum tempo sozinho. Estas eu já respeito. E há uma outra que diz que não conseguirmos aquilo que queremos é, por vezes, um grande golpe de sorte. E isto faz-me pensar, faz-me sorrir e é calmante. Porque há muita verdade aqui dentro.  


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Oh Woman

Vou guardar só para mim. Porque finalmente senti o fumo porque alguém fez chama do fogo, e até sorriu. - Oh woman, olha o caminho certo. No meu diário secreto também habitam fotografias. Que sorte eu saber que cativo a sensatez e queria dizer a bondade. Sem dizer, espero que seja. Faz de conta que também jogo ao faz de conta. A turma de 97 sabe que, com protetor solar, mais à frente quando olharmos para trás tudo estará guardado. E para colher as boas memórias é preciso saber escolher.


The Night Will Always Win

Pelos muitos pontos que não encontres teus nos outros. Pela verdade que sabes. O resto do mundo lançado ao acaso de acreditar. Parecem brincadeiras de crianças ou como diriam os franceses: bêtises des enfants. E sentes isso com instinto. Coisas dos humanos. Os animais não enganam, nem se enganam. Sentes por ti os teus pontos que não encontras nos outros. A integridade ao espelho à minha frente. A minha vida é muito maior aconchego. Atenção. Convém lembrar que agora são apenas dias, seguindo-se. E a noite irá sempre ganhar. 


segunda-feira, 25 de setembro de 2017

The Long Day Is Over

"Sometimes you have to play a long time, to be able to play like yourself."
Miles Davis


Esta coisa de guardarmos o passado, sem termos noção da nossa capacidade em o armazenar. Um talento invisível, indizível e imenso. Ainda não havia feito referência a esta cantautora que escolheu omitir da sua identidade o nome do pai. Com a música do mundo correndo-lhe no sangue, Norah é um novo movimento de jazz e uma espécie de blues (com alegria por dentro) e que dá gosto escutar. Ainda bem que os dias são longos, assim, antes de irmos dormir, podemos agitar o espírito com gente bonita e bem maravilhosa. Pessoas que, apesar de por lá andarem nas suas vidas, também vêm de encontro às nossas apenas para nos fazerem bem.


Feeling tired
By the fire
The long day is over

The wind is gone
Asleep at dawn
The embers burn on

With no reprise
The sun will rise
The long day is over

Honesty

Honestidade tem tudo a ver com verdade. E tem muito a ver comigo. As alturas das conversas, das promessas, das ideias que se criam quando se é real e se espera o mesmo do outro. Depois, um dia vem e com ele uma grande surpresa. As memórias em vão que levam a um outro futuro. Eu fiquei igual a mim, igual a sempre, ainda que vejas um arco-íris com as cores menos vivas ou, se cantando, em notas menos azuis.


domingo, 24 de setembro de 2017

Inútil Paisagem

Mas para quê? Para quê tanto céu? Para quê tanto mar, para quê? Esta música é para me lembrar que não devemos admitir um mundo pequeno. Eu quero montar uma plataforma para expor o pedaço dele que conheço. Quero colar fotografias, muitas cores, poemas e outros pensamentos. Aqui trago canções. Esta aventura tem-me deixado contente. A outra verei depois. D'abord il y a déjà un chemin. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Needless to Say

"The writing process is really a process of uncovering or discovery. The image of the sculpture removing the negative object and revealing the sculpture..."
Max Richter

Running out of love. Os céus de Setembro ligeiramente desbotados. São nuvens. Mais nuvens. Esta música foi escrita num comboio. Não se sabe a razão, mas os comboios são bons lugares para se escreverem canções. Seguimos o caminho num sentido único. Não se pode voltar atrás e as imagens vão passando. À meia-tarde, pensava no nome do álbum: How music fils our Silence. Não é preciso dizer.


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Bad Love

Grudado. Agora que escrevo parece-me uma palavra do Brasil. Ligeiramente adulterada por conveniência. Agarrado é muito mais nacional. Uma palavra menos intuitiva, mais trabalhada, mais nossa. Mas o tema é mais uma vez este: o bom e o mau amor. O amor entranhado. O amor como o mar em vai e vem. O amor declarado que não apetece perder. Ou sem adjectivos. Simples como dois humanos que procuram saber ser dois simples humanos.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Fuel To Fire

Ao passo que a vida é um massudo conjunto de lições, haverá um sentido moral do universo? Empurrando-nos. Alguém a meter combustível nisso de nos fugirmos da mão. Sim, eu tenho que aceitar. Sim, tu tens que aceitar. Ou será um descalabro bom sem destino? Em todo o caso, temos a música para nos encontrarmos. Ou, sempre que nos perdermos, tê-la-emos para nos encontrar. Do you want me on your mind or do you want me to go on/ I might be yours as sure as I can say/ Be gone be faraway. 

Not Everything Was Better In The Past

De manhã, o inverno a aparecer gelado. Ainda a noite abriga os primeiros passos a caminho do trabalho, e os médios não têm tempo para dar lugar aos mínimos. Ao fim da tarde, a tinta verde do campo inunda ainda o horizonte junto ao mar. Parece que o Verão foi para longe. O Sol voltado ao contrário, ou de frente para outra direcção. Foram dias passados a correr, esses de calor, que deixam sempre saudade. Mas vai-se encurtando o tempo que falta para uma outra empreitada, um outro lugar, uma outra vida. Nem tudo era melhor no passado. Je suis vraiment médusé. Com tudo o que tenho aprendido aqui.

sábado, 16 de setembro de 2017

See Me

Entre todos os passageiros. Vê-me entre todos os livros. Em todos os lugares. Em frente aos rios e aos mares. Nas viagens que quero fazer. Nos comboios, barcos, nos aviões. E caminhando. Vê-me também a parar para gravar todas as imagens possíveis conter. O futuro é um imenso labirinto. Com esquinas e curvas de arbustos. Vê-me nos campos, nas montanhas mais altas. Entre todos os povos. A atravessar fronteiras. Vê-me com o cabelo ondulando ao vento. À chuva. Deitada ao sol. Vê-me sorrir contente com as histórias de cada momento.


Windows

É um novo dia. Novo dia diante destas janelas. Os olhos desenham instantaneamente o horizonte. Há sempre diferenças em relação a ontem. Os automóveis arrumados de maneira diferente. E há muito menos autocaravanas agora que o Inverno parece antecipar-se. Outras coisas agarram ainda o Verão. Vão as pranchas para o surf como malas. É um desfile até à água nestas paragens. E se calhar não está o frio que parece. 

S t r o m a e

Ruandês pelo pai, belga porque lá a terra o fez nascer, compõe uma mistura de sons ímpar na sua mesa. Invertemos a palavra maestro et voiláUma espécie de tutor entusiasta pela música electrónica aliada ao rap e muito mais. Crítico entusiasta da sociedade, autor e mestre de discursos fortes de verdade e cerimónias despidas de adornos. Afinal pode ser puramente simples descrever os dias e seguir com eles um pouco por todo o lado. Stromae faz a sua música em jeito black and white com um sorriso na face. "Qui dit proches te dis deuils/ Car les problèmes ne viennent pas seul/ Qui dit crise te dis monde dit famine dit tiers-monde/ Qui dit fatigue dit réveille encore sourd de la veille/ Alors on sort pour oublier tous les problèmes". Participou nas TED talks com uma humildade bilingue comovente para explicar a construção das suas músicas, recorrendo a Alors on Dance:


Tudo motivos para a sua aparição se ter tornado viral. Para milhares de seguidores nos seus concertos. Não é apenas música do que aqui se fala, é todo um espectáculo ainda que se dance em frente. Talvez a particularidade de se transformar em palco como em Formidable aqui aos 58 minutos:


E diz-se genial apenas porque está no sangue dos artistas a coragem desprovida de senso comum de se diferenciarem dos transeuntes mundanos. Está só ao alcance destes, não se aprende a ser mas podemos assistir de longe ao improviso não menos provável nesta versão-projeto filmada para o clip mas atenção que «Ceci n'est pas une leçon».  


Na sua originalidade, e, sem qualquer receio em dar-se a conhecer, chamou a atenção do mundo. O seu registo manteve-se quando partiu à conquista da América por Seattle, Nova Iorque, e em São Francisco partilhou outro capítulo do seu diário de bordo onde o improviso novamente a caracterizá-lo: Dois, Três, Quatro.


Muitas versões, ocasiões para só uma palavra, um só título, uma só canção em repeat, mas também justamente um só adjectivo: Formidable

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Thunder

No outro fim-de-semana, terminei a sétima temporada do Game of Thrones. Isto, a propósito de dragões imaginários e de domingos frios, mas falando de tempestades penso que o mundo pode descansar pois o Irma já passou. É tudo passageiro: Byron disse sobre as tempestades que (se repararmos bem) elas, como as emoções, começam em bonança «Tranquilos o céu e a terra - mas não adormecidos,/ Porém sem ânimo, como nós quando apaixonados,/ E tão silenciosos como se acordássemos de profundos pensamentos» e a mudança vem depois. 


quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Depth Over Distance

Na verdade, foram eles que marcaram a renovação da poesia: não, os autores não, antes os apaixonados. Talvez eu escreva melhor quando a profundidade é maior do que a distância. Porque calcas o chão e enterras-te um pouco nos teus dias. Levas os pés molhados à areia depois de mergulhar e desces até aos joelhos nesses pensamentos, talhados de apenas memórias. Eu continuo neste presente longe de florir, aliás cada vez se avista mais o Inverno. Mas a vida é muito grande e cheia de coisas mesmo enquanto se aguarda o sol de amanhã. 


terça-feira, 12 de setembro de 2017

Visões Ficções

Ouço Dead Combo
as guitarras tocam
e há uma voz,  
embalando, 
para começar
em jeito de lullaby,
a abraçar a gente.
E eu
deixada em terra firme
com o mar em frente
vejo a passagem dos corpos
náufragos.

E ao 
escrever este texto-poema
percebo que 
todos os meus textos são poemas
e não há parágrafos 
nos meus textos-canção.

Ouço esta música
como uma nova condição,
não escrevo, 
sinto,
porque as pinturas na água 
são como corridas de corpos loucos
como ficção de cinema.
Da janela de casa
vai o ruído do mundo a passar,
e, na interpretação,
há sempre uma pena de ave
a cair na minha mão.

E ao 
escrever este texto-poema
percebo que 
todos os meus textos são poemas
e não há senão a verdade
nos meus textos-canção.


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

She

Este She, pós Elvis Costello porque a repetição, mesmo do que é belo, cansa, vem arrepiar-me a pele. Com aquele efeito novo que - diz quem estudou tratar-se de uma reacção de superior sensibilidade - me faz sorrir ainda mais em relação ao sentido que a música ocupa na minha vida. Sim, ela reflecte-se na minha pele. Ela dança na minha cabeça. Ela liberta-me do meu tempo. Uma dimensão de magia a contar histórias pela minha mão. Ela, e somos sempre tantas: aquela música e eu.



she cut a hole in the fence and she ran
she left her troublesome prison behind
she didn't wanna fuel the fire
she didn't wanna lose her desire

she looked out to the horizon
she didn't have much left to see 
greed had taken the trees away
greed had taken the bees away

she don't know where she's gonna go now
she looked up to where there should have been stars
she said I wanna go to mars
and this, this planet ain't ours

Go Solo

Malha perfeita para eu receber. Não deu na rádio no carro, veio pelo bico de um corvo. Porque os corvos também trazem gelados de morango com chocolate quente no bico como quem assobia de longe aquela canção que faz o coração derreter. Ou pode ser só o chocolate, eu que amo coisas doces, divido-me nisto. To build a home, depois do primeiro minuto, também se escuta assim, com os pêlos dos braços a deixarem de dormir. E ninguém precisa de falar, apenas de ouvir. As nossas almas vivem felizes no fogo do pensamento. Go Solo que a vida se tiver que ser será aqui na Terra ou fora dela como num campo de balões.

domingo, 10 de setembro de 2017

Pausa (Número Oito) para Publicidade

Como vender um automóvel?



e se eu (só) quiser a música?

(interpretação de Flo Kirton expressamente para o anúncio)


Full Circle

Isto de fabricar música é arte. Até aqui nada de novo. Talvez haja mais que uma diferença entre o mínimo e o vazio. É esse o perigo de explorar emoções. Vejo que tenho as prateleiras bem arrumadas. E graças a ti, há novas faixas para ouvir. A internet tem funcionado bem e sem surpresas. E a vida tem que continuar no seu sentido longo de voltar ao ponto de partida. O problema é eu saber que cada vez que fecho as janelas estou a perder o meu sol. Então espero que se levante.