domingo, 29 de outubro de 2017

Words

Todos os dias me reinvento com palavras. Haja tempo. Por acaso, a hora mudou, e ficamos com o fim-de-semana maior. Mas hoje não vou deitar-me cedo. Mesmo que a lua se imponha majestosa neste céu, aqui, recheadíssimo de estrelas. Tenho de aproveitar este céu para pensar nas palavras que as estrelas me lembram. Sabes, a gente só tem que ser o que precisa. Há pessoas, como eu, que respiram melhor assim, com os olhos bem abertos a brilhar. Creating new paths and memories. E era isto. 

sábado, 28 de outubro de 2017

Take on Me

Dizer isto assim, sem bateria, tantos anos depois e com reticências no fim. Antes era o gelo para lá da muralha. Winter is coming, como dizia Jon Snow. Mas a muralha caiu e o inverno este século é tão ameno que andamos mesmo mais leves, por aí. De mão dada com a verdade, mas à espreita. E cada vez com mais cuidado. Falamos quase sem instrumentos, apesar de o ruído às vezes também ser bom. Faz o corpo mexer. De qualquer forma, como eu dizia: não está frio. A madeira há-de ficar guardada para o fogo da lareira, mais tarde. 


sábado, 21 de outubro de 2017

M'Bifo (Je Te Remerci)

Estava a escrever sobre o pôr-do-sol africano e, lembrei-me daquele pequeno poema da Rupi Kaur, que também combina com esta música e que fala de coisas enormes. Devemos agradecer a quem nos carrega o Sol e, ao final da tarde, nas tardes de todos os dias, o faz descer para dentro da linha que reparte o horizonte. E, se ele não estiver aqui, é porque está já ocupado a puxar o Sol para amanhã este se pôr, no lugar onde o céu se deixa corar.

I know I 
should crumble
for better reasons 
but have you seen 
that boy he brings 
the sun to its knees 
every 
night.


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Angel By The Wings

Esta semana, os incêndios continuaram a calar as serras. Calar, porque o vento não pára para falar com árvores sem folhas. Nem as folhas se desprendem em danças com o fogo. O Outono parece deixar de ser Outono. Agora em cinzas, depois do fumo que nos mudou a cor do céu até aqui. A Natureza ocupa-se em levar as cinzas para dentro da terra ou para dentro do mar. Mas um fogo até pode ser bonito: 

se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha – não te assustes
são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te
diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo – diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos

e adormece sem lágrimas – com eles no chão

E pedes aos anjos para murmurarem essa última canção. Depois, talvez alguém a enviar-nos a chuva. Ou os teus antepassados a pedirem a Deus essa chuva. Ou eu, com a força toda do mundo, sem acreditar em Deus, acreditando em mim. Ou tu. Porque seja o que for que venha, podes pensar que o tempo resiste sempre ao vento e tu, enquanto estiveres acordado, sabes que nunca haverá uma última canção. Look up, call to the sky/ Oh, look up and don't ask why, oh/ Just take an angel by the wings/ Beg her now for anything/ Beg her now for one more day/ Take an angel by the wings/ Time to tell her everything/ Ask her for the strength to stay./ You can do anything. Então pelas árvores que ainda temos, pelas folhas que esperam o vento passar, e, enquanto a chuva cair, devemos continuar a dançar.

sábado, 14 de outubro de 2017

Histórias

Há músicas particularmente felizes sendo tristes que me fascinam. Ainda assim, quando se sente a energia e o impacto de uma grande composição isso é um prazer tremendo. A convite do próprio, tive a sorte de assistir ao ensaio de um concerto que o Rodrigo Leão deu há uns anos no Algarve, depois voltei para o próprio concerto. Coisas nas quais vale mesmo a pena gastar tempo nesta jornada linda que é a vida. Entretanto, se perguntarem por mim, estou por ali a escrever as minhas estórias. Mas sobre essas ainda é cedo para contar. 


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

The House Where We Grew Up

O regresso ao passado é a nova malha da dupla Hammock. A atmosfera hipnótica mas subtil, de embalo, em nada mudou. Nesta trilha, mantém-se a leveza continuada da rede de descanso. Um olhar no oceano, prolongado, sem pressas. Talvez mesmo em câmara lenta, uma máscara em dia de nevoeiro ou, então, não se vê bem em frente porque já anoiteceu. Há sempre mistério nesta sonoridade. Canções que combinam com a voz de poetas. Herberto Hélder diria de uma casa-infância.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

We Might Be Dead By Tomorrow

Sokolinski de guitarra na mão, tendências algo sombrias a invocar a destruição, no entanto, sob uma forma melódica, frágil e emotiva. Uma espécie de Maria McKee nascida em França e numa geração mais recente. E dito, por ela, 'I have no life. I just love vegan ice cream and cats and romance and turquoise and sleeping and old notebooks and shooting stars and Netflix. And I may or may not be an Alien.' E, se amanhã estivermos mortos, será amanhã, não hoje.

domingo, 8 de outubro de 2017

Les Tulipes de Mon Jardin (The Perfect You)

Faltam violinos a acompanhar esta música quase perfeita, ou seria uma sinfonia. Só para lembrar que as pessoas da minha vida são também, por assim dizer, as tulipas do meu jardim. Tu, tu, tu, tu. A cabeça vai-se voltando em sentidos aleatórios. Mas do lugar de onde escrevo, sei perfeitamente a que caminho me entrego. É hora de brindar à natureza sem esquecer este lugar muito pessoal onde a viagem não termina porque as coisas com música têm outro encanto. A perfect start, a perfect end. / How lucky you are. 


sábado, 7 de outubro de 2017

Promise

Quem conhece The Gift entende que eu mencione a banda. Esta faixa traz algo do Concret. Mas haverá alguma canção que não nos possa levar a uma outra? A música é uma quantidade enorme de promessas. Uma correnteza de muitos rios diferentes e lágrimas adocicadas e chuvas tropicais e poemas perfeitos para nós e nuvens que desaparecem ao fim da tarde. Uma correnteza feita mar connosco lá dentro. Afinal também todos somos água.

Did You Really Say No

Disse 'Não' como uma palavra sagrada. Maiúscula. Respeitável. Porque uma palavra mesmo pequenina fica outra coisa em bicos-dos-pés. Então eu disse. Porque eu gosto das coisas altas: cabeças levantadas na rua, balões feitos para sonhar, papagaios a voar na praia. E, hoje, as asas do kitesurf entre um frio gelado, bonito. Porque tudo o que é colorido anima até o dia mais cinzento.   

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Smother

Hoje, para mim, a música mais bonita do mundo. Prestar atenção, senti-la. Saber que o belo dentro do triste é tanto mais belo e tão mais triste quanto o belo se sente triste. Uma loucura a espiral de entrar dentro de uma canção. Um prazer de personagem. E a vida é uma coisa muito maravilhosa. I want all that is not mine. Não me canso da redoma dos meus dias. Fico sem me mexer, obedecendo ao universo, em dispersão entre planetas. Como crianças nas barrigas das mães.  


I’m wasted, losing time
I’m a foolish, fragile spine
I want all that is not mine
I want him but we’re not right

In the darkness I will meet my creators
And they will all agree, that I’m a suffocator

I should go now quietly
For my bones have found a place to lie down and sleep
Where all my layers can become reeds
All my limbs can become trees
All my children can become me
What a mess I leave
To follow

In the darkness I will meet my creators
They will all agree, I’m a suffocator
Suffocator

Oh no
I’m sorry if I smothered you
I sometimes wish I’d stayed inside my mother
Never to come out

Imagining My Man

Imaginar a pessoa. Um ser humano que teriam de ser muitos. Na opinião de que cada um seria um espelho de alma para diferentes momentos. Eu não queria voltar para trás. Porque a felicidade ocorre em instantes. Nela há intimidade, medo e, principalmente, mistério. Depois, mais em concreto. Cada festa, cada carinho, cada abraço. Que começa e morre no seu tempo. O amor da nossa vida é todo o amor somado e esse demora; é o nosso tempo verdadeiro. 


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Ulysses and The Sea

Este som. Se eu soubesse mais sobre instrumentos eu diria mais sobre este som. Além de que gosto muito. Alguém que não vejo cambaleando os dedos. Uma espécie de dom alheio onde me recupero inteira e então há que aproveitar toda a melodia benigna que ali se faz por nós. Estes brinquedos de fabricar canções que nos retiram do silêncio se a sorte nos der silêncio. E que nos amarram em repetições, no outro mundo que se sobrepõe. Ali um grande bem-estar. Que alegria, às vezes. E se não tiveres quem te traga canções, apanhas um búzio do mar.


terça-feira, 3 de outubro de 2017

The Way I Fell Inside

Escondemos como nos sentimos. Longe e tão e tão perto. Eu tenho uma existência leve, limpa. Como uma nuvem que não se repara ao passar. Como quase todas as nuvens. Brancas, sempre brancas. Não reparamos que ali estão. Não notamos diferença de quando o céu aparece inundado de azul. E, com o tempo, não sabemos se era sonho, se era ausência, se era só alguém a pensar. Por dentro, sou uma parte-nuvem que não se vê em redor. 


domingo, 1 de outubro de 2017

Wanna Be Basquiat

Esta artista portuguesa faz-me lembrar o David Santos dos Noiserv por ser autónoma na elaboração do seu próprio som e vocals. Embora, ela seja um caso de multi-instrumentos mais digital, mais pós-rock, mais noise. Há pessoas que me levam a outras mas somos todos únicos apesar de haver seres verdadeiramente geniais. E dito isto, aqui Débora queria ser Basquiat. Outro talento incomum para as artes (que para ele foram várias) do grafite ao neo-expressionismo com uma passagem menos conhecida na música, porém uma parte crucial da sua pintura