segunda-feira, 25 de julho de 2016

Thinking About You

Tenho-me lembrado de um homem que lia um livro de música no metro de Paris. Mas o que ele lia eram mesmo as pautas. Ouvir a música no silêncio daquela maneira é mais ou menos igual a ver as cores do mundo através dos dedos sob o relevo do braille. Para esta comparação das coisas os franceses utilizam a palavra Pareille. Por outro lado, são felizes acasos de quem anda por aí, na rua, à espreita de viver coisas novas, irrepetíveis. Espero nunca mais me esquecer da forma como ele entoava a própria mão, em jeito de maestrino, enquanto folheava as pautas. Não tive presença suficiente para o fotografar com profundidade de campo capaz de resultar em algo que agora pudesse titular de fotografia; aquela imagem foi tirada com a coragem que me faltou, por isso não resultou com boa qualidade. O fotógrafo tal como o poeta, é também um grande fingidor:  talvez porque não lhes caber mais nada na sua essência repleta de vida, os melhores momentos de todos, aqueles que nos trazem água aos olhos, ficam quase sempre por registar. 


sábado, 23 de julho de 2016

Wide Open

Parece fugir o bom senso quando se fica demasiado aberto. Permeável à mudança, a tudo. Principalmente ao novo. Já passaram 10 anos sobre tantas coisas. Fico embalada nas fotos antigas a pensar nas viagens que se seguirão. Porque eu sei que está por vir é grande, tão grande quanto o que eu quiser. Podemos pensar com medo, ou pensar nas coisas como se a vida nos embalasse enquanto nos sentimos a transformar, e talvez isto seja crescer. Berceuse é quando confiamos que amanhã acordaremos ainda mais fortes.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Shortline

Não sei ao certo o que quer dizer shortline. Diz a tradução tratar-se de um sistema de transporte que opera a curtas distâncias. E pergunto-me quantos metros serão necessários para definir uma distância curta. Em todo o caso, a palavra junta parece não existir no dicionário. Será como faltar um pouco que parece imenso? Olhar para a frente e ver um tecido azul esponjoso, um pouco mais duro do que parece antes de lhe tocarmos. Acho que Yves Klein passou por ali. Numa linha curta vista muito ao perto que quase ocupa toda uma parede. Porque em frente continua a ser azul. Quando nos reduzimos ao nosso tamanho, o céu fica inalcançável mas o melhor é sempre continuar perto dele. E em relação a isto, dizem os franceses para Avoir la tête dans les nuages.  


terça-feira, 19 de julho de 2016

Over the Sea

Do amor. Do fogo. Do grito. Da buzina. Da rosa dos ventos, das rodas, carrosséis. Também tu me empurraste para todas as direcções. Lugares onde vamos vivendo, tirando lições. E os teus gestos que me mimam, me ajudam. Gosto que te ocupes comigo, como hoje. E parece que não vejo mas sigo atenta, deixando-me ir. Amener é conduzires-me a ser feliz quando pareço não conseguir sozinha. Emmener é deixar-me ir a teu lado. Não quero saber de Pokemons súbitos em mapas virtuais, não tenho apetência para isso. Mas contigo consigo tocar guitarra no ar, e mudar os acordes com a minha mão esquerda. E se me deixares feliz assim hei-de tocar com toda a gente a ver: um concerto para mudos sobre a água, enquanto flutuo, sem nunca me deixar ir ao fundo. 

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Wait

Quem diria que uma série televisiva de dança, faria tocar uma música tão bonita. Surpresas. Esta, para mim, já leva 3 meses. Mas é tempo de anotar acontecimentos mais recentes. O fim-de-semana foi longo mas sentiu-se a pouco. Antecipámo-lo tantas vezes. Dizíamos «Quando eu for a Paris» e Paris chegou tão depressa que as fotografias já editadas parecem ter meses. Não é ilusão nenhuma é só a razão mundana. A nossa realidade pode ser melhor que a elaboração do sonho. A imaginação tece mantas compridas como as filas dos museus. Attendre é aquela sensação de saber que falta muito pouco para o muito bom que aí vem. E às vezes vivemos muito os nossos desejos, sonhamos de forma pouco contida e não pensamos que é depois a vida quem nos leva com ela, à sua maneira, e para sempre. Portanto, se nos resta ter de esperar, façamos essa espera num canapé confortável ocupados com algo mais pois 'o que aí vem' não espera por nós, chega naquele momento que tem que ser. 

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Lost On You

Esta saiu de uma radio francesa a caminho de casa. É quando trazemos o corpo moído do trabalho e vamos olhando da janela as árvores ficando para trás. A canção contém futuro e passado. Na nostalgia dos dias é preciso mantermos o passo. Saborear estas coisas que nos moem a alma. Saber que se está no sítio certo e que amanhã essas mesmas estradas esperam por nós. Normalmente levamos as mãos dadas e no meu dicionário: Bonheur é aquele momento muito vivo e presente que demora uns trinta minutos a levar-nos a casa. As paisagens em França são cuidadas e é bom percorrê-las sem silêncio. Não sei se é da teimosa chuva da Mancha que limpa tudo mas com o tempo vai-se perdendo o medo de que o céu nos caia em cima; teremos sempre o amor para nos perdermos.

Wake Up The Sun

É a falta de Sol que nos faz saudar Portugal. Talvez nesta altura se sinta mais. Ainda há muito para aprender. A gente habitua-se àquele conforto na pele sem mangas. Sorrimos mais. Passeamos mais. Vemos o mundo com mais saturação. As fotografias ficam mais bonitas e as memórias também. Ficamos melhor porque a Natureza tem esse efeito tremendo. O tempo frio faz retrair ao contrário do calor e acolher o Inverno em Julho não é o melhor abraço que se pode dar. Entretanto, vamos fazendo um dicionário novo: Partager - quer dizer dividir ou pode ser partilhar; é, portanto, o jogo de Domingo. Oxalá faça Sol.

There Is A Bed In My Head

Pessoas que não cabem aqui. Gravuras e ecrãs tácteis. E tantos anos que os dividem. Estes os filhos de hoje; e, mesmo ao lado, pais e avós. Não são grandes nem mais pequenos. São azuis mais fáceis de encontrar. De repente, tudo se permite. Há este beat de misturar o antigo com o novo. Reaproveitando o que havia porque não há maneiras novas para descascar a fruta. Parece que se descobriu mais um planeta e órbitas em volta. Não se tem falado tanto dos animais em extinção. Os anúncios de perfume têm cada vez mais argumento e menos flagrância. Há mais viagens low-cost para andarmos por aí porque esta terra é e continua tão grande... Às vezes sinto-me dentro das letras das músicas. Os idiomas são redes conformáveis para nos recostarmos melhor. Ganhamos sofás ou camas dentro da cabeça. Tanta novidade que se escuta. E, no entanto, pouco muda porque o caminho é continuar a sonhar.