sábado, 30 de novembro de 2013

The Golden Age

Em homenagem à década de 80 e a todos aqueles que prometem muito para os anos que vêm, como a Matilde Campilho, o Yoann Lemoine, e outros... Porque há sempre muita gente que gostaria de ter tido o privilégio de conhecer à nascença mas essas pessoas aparecem-me bem mais tarde. Ainda assim, fico grata ao acaso por estas apresentações distantes. Dizê-lo é também uma precipitação, não conheço muito o Yoann - sei que o rapaz andou esta noite pelo São Jorge -, mas em compensação, punha o meu pescoço pela Matilde. O sucesso dela parece-me evidente e justo. Não lhe conheço página «de likes» no Facebook nem nenhuma morada na web a publicitar os seus poemas. Procurei e não encontrei, salvo na blogosfera, onde outros antes de mim também quiseram mostrá-la ao mundo. A Matilde Campilho há-de pertencer ao grupo de pessoas que não precisam muito (ou, provavelmente, não precisam nada de nada) de montras para acordar de manhã com aprovação externa. Quem entende de modéstia está muito consciente disto. A Matilde é poeta, ocupa-se das palavras, e eu já assisti a alguns vídeos onde dita poesia de uma maneira que me faz sentido. Penso que ressoará da mesma natureza a quem tiver que entender isto com similar plenitude. Como se ela escolhesse palavras para colocar dentro de um saco escuro, alguém sacudisse o saco diante de mim e eu encontrasse ali as palavras que acharia mais certas se tivesse sido eu a escolhê-las. No entanto, sabendo que, se esse episódio tivesse efectivamente acontecido, eu jamais acertaria naqueles vocábulos exactos por razão de a fonte ser tão vasta que eu não acreditaria em coincidências. Mesma conversa se fosse eu a podar o bonsai, se fosse eu a fazer o arranjo de flores... Quando gosto do resultado da obra que o outro faz, fico quieta a apreciar porque sou igualmente feliz. Existe uma palavra do Japão que serve para expressar a beleza encontrada na simplicidade das coisas. Essa palavra é «wabi». E «wabi» é a luminosidade que se reflecte depois de a Matilde dourar as palavras, e eu as encontrar naquela sua ordem. 


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Life Is Sweet

Anos a trocar ideias sobre música por aí, nos trilhos da minha vida, cruzando-me com tantas outras e nunca encontrei uma criatura que me dissesse que também delira com esta música: Life Is Sweet. Existe uma outra versão mas prefiro a original. Tem mais amplitude de frequência. Pertence ao meu grande grupo de canções para ouvir em viagem. Mesmo que só vá descer a Infante Santo, desconfio que se me buzinarem irei ficar-me pelas guitarras e pelos na-nana-nanaaas da Maria. Mas é assim a vida: sweet. Apetece-me gritar que assim é: com altos e baixos, no seu círculo vicioso, com frio e com sol, com madrugadas e noites, com passado e presente, com muita novidade, muita rotina, desejos, inquietações, dúvidas, alegrias, grandes surpresas, palavras, poesia, mar, música, beijos, abraços, muito ar bom de respirar futuro e ainda mais vontade de cantar bem alto: Life is sweet/ Bittersweet/ And the days keep rolling along. 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Soul to Squeeze

Sempre adorei a palavra «squeeze». Tem mais som do que a maioria. E gosto desta palavra, não pensando no seu significado nem no idioma, somente na fonética. Há ali o efeito arrastado do «é» duplo que parecem três ou quatro siameses. Até poderia ser uma mini palavra encaixada em outra que só contivesse a letra «é». Uma coisa que se não estranharia se fosse dita por animais, embora lhes escapem as consoantes. Como o balido das ovelhas ou algo semelhante ao bufar do gato. «Squeeeeze». Escorrega-se ao dizê-la e a boca (ou mesmo a expressão facial) chega a demorar-se no momento em que o sorriso tem o comprimento e largura certos. Quando digo certos, refiro-me ao ponto em que o sorriso cintila: não se força a crescer, artificioso; nem se reduz, apagando-se. Fica ali no limbo - octingentésimos de segundo: eeeeeeeeeeeeeeee -, entre a emoção e a compreensão. Depois reconheço o sentido da palavra e assalta-me o seu significado. Afinal, não era um animal que a dizia. E não era a tradução que me apetecia ouvir. Porque faz-me pensar em pescoços, cordões, no cinto, depois em laranjas e em limões, mas nunca em almas. Não querendo falar pelos outros penso que a Diane Arbus iria gostar disto:

terça-feira, 26 de novembro de 2013

The Party

Ninguém tenha dúvidas sobre a capacidade de sentirmos a vida do interior para o exterior. «Fazer a festa» tem pouco que ver com organizar eventos a pretexto de... (bem, talvez de tudo), e receber pessoas, gente, muita gente, muita além da necessária. (Às vezes parece que a multidão mascara o vazio, parece.) «Fazer a festa» não é uma desculpa para carregar na maquilhagem, nem para prestar maior atenção ao pormenor: o glamour da roupa nova, tornar o dia especial. Todos os dias são especiais. É isto: Todos-os-dias-são-especiais. Agora, por escrito: cento e três vezes na ardósia. Em caixa alta: Todos-Os-Dias-São-Especiais. Cento e três, justamente, para não me reduzir ao cem de todos os dias. (E o que será isso de ser diferente? A Annie Leibovitz declarou que nunca pediu a ninguém para sorrir antes de disparar a câmara. Penso que poderá ser isto, o tal «ser genuinamente original». Eu já não vou a tempo de afirmar o mesmo.) Por isso, façam o favor de sorrir e, já agora, façam também o favor de «fazer a festa»: pegar na mão, levá-la ao «objecto», e passeá-la, corrê-la no «objecto». Instalar-se-á uma felicidadezinha de balão a encher. Nem sempre é possível fazer isto. Levar a mão. 

Out of Africa, Lisboa
(c/ Panasonic DMC-G5)
Então, olhemos à distância, segurando aquele momento. Como eu ali há uns dias, de poltronas nas pálpebras. Lembro-me de estar a sorrir aturdida pela vontade de esticar a minha mão. Uma mão que esticado o braço não chegaria. E a vontade passa a ser a de me demorar naquilo porque o coração está cheio. Tão cheio. De maneira que consigo tocar no «objecto» porque sinto isso por dentro. Há coisas que não têm de ter explicação. Gosto mesmo muito de animais. E foi tão bom quando o Sol de repente veio cobri-los. Cheguei a pensar que ia faltar à festa mas, a minha mão a agarrar em cheio aquilo tudo: o mundo em rotação e naquele quadro (sem tempo e sem espaço) uma beleza muito pura de savana, o Sol a acomodar-se, a tranquilidade da vida, aquele presente muito presente, o futuro a parecer muito vivo e aquela certeza inteira de sentir (muito mais que cento e quatro vezes) que todos os dias são mesmo especiais. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

El Corazon

África, não seria o lugar errado para eu estar, agora.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Before Your Very Eyes

Mais um trabalho de Andrew Thomas Huang. Desta feita, agiganta-se a cabeça de Thom Yorke, as mãos, o busto. As dunas surgem liquefeitas dissolvendo o corpo do cantor. Nasce uma multidão de edifícios e candeeiros e viadutos compridos. Mas tudo se desmorona, engolido por um grande buraco escuro, a ponto de nos desejar uma boa-noite. A Vanessa da Mata iria gostar do início desta música. E eu devia ter começado por dizer isto porque a música vem primeiro do que a imagem. Mesmo que milhares de partículas de areia vestidas em florestas virtuais da Missoni e um ralo enorme por baixo, sugando-as. É enorme mas não consigo chegar a ver. Qual é então o propósito dos vídeoclipes? Provocar a distracção deliberada? Enriquecer o discurso sonoro pela sobreposição das correntes artísticas? É talvez como fazer uma tatuagem para elogiar a pele. Eu prefiro vestir uma camisola quente. Apesar da qualidade dos vídeos é primeiro que ouves a música diante dos teus olhos.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Together in Electric Dreams

Esta música tem um je ne sais quoi pouco simples de explicar. Tratando-se de um cover, há reminiscências óbvias de Phil Oakey (Human League) & Giorgio Moroder, da altura em que propositadamente foi criada para o filme Electric Dreams de ´84. Porque há músicas que nascem sob encomenda. E, na verdade, são muitas. Em diferentes áreas existe igualmente uma ideia e a sua concretização. Que é a intenção mais primordial. Tem outra vez que ver com a escala da importância: o que é enorme para mim pode passar-te ao lado, ou melhor, em cima, porque o que é mesmo grande (para mim) têm dimensão de nuvem. E depois há aquela concepção extraordinária da nuvem ser algo diáfano que ao mesmo tempo não existe. E, no entanto, água condensada esticando-se na paisagem. Uma excepcional musselina que só podemos tocar em sonho. «We`ll always be together/ However far it seems/ (love never ends)/ We`ll always be together/ Together in electric dreams.» Não me lembro de melhor explicação para isto do que a sucessão dos Equivalentes que Alfred Stieglitz tirou entre 1925 e 1934, conferindo uma nova linguagem à fotografia. De imagem abstracta, modernista, tornando-a num instrumento autónomo de Arte, porque «Sometimes it's hard to recognize». E andamos há séculos a tentar provar aquilo em que acreditamos. A querer validar a nossa razão. Como se nós não nos chegássemos a nós próprios. Não posso dizer que não gosto de sentir a força da minha convicção. Gosto. É uma cadeira confortável. Sento-me e sei que quando me levanto alguém repara que estou a levantar-me. Mas qual é a importância disso que não seja momentânea? Amanhã posso ser mais um ponto na multidão. Ou uma partícula de água que cai em chuva e te bate na cara se tiver mesmo muita sorte: aquela sorte enorme de te tocar. E, neste caso, é muito melhor cair do que levantar-me. A tal escala das coisas à minha dimensão. E parece que só eu posso sentir-me assim: achar que o Amor nunca acaba. E depois vem esta música e eu fico pequenina a reparar que os parênteses nem sequer se ouvem, ao contrário das palavras.



quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Baby Says

A conjugação de uma voz feminina e de uma masculina. Uma noção de marca d'água usada com grande acerto sobre uma composição musical. Ou uma vibração escalonada o que, por outras palavras, é dizer mais sobre essa dinâmica. Porquanto até na música se bem percebe a vantagem de uma relação relativamente a ambos os elementos a sós. Soa melhor a complexidade das cordas vocais onde se encontra a junção das sub-componentes. Privilégios de espaço num território sonoro. Mas nem todos os recursos combinam assim, aliados à música. Ponho-me logo a imaginar este duo em palco. Cada um a pilotar o seu microfone. Cantam olhando directamente entre eles, de modo que os olhos alinhando oscilações de timbre, antevendo manobras para se manterem a par e, como consequência, muito mais força dada à letra. E muito mais gravidade, muito mais estrutura dada à canção. O significado da letra não é mesmo nada importante. A imagem de estarem juntos sim. E por falar nisso hoje era dia de... Não te dizer adeus... Esta palavra não é coisa que se diga a quem se ama. E eu ainda ontem dizia que nem tudo o que é inominável é mau. Há tanta coisa sem nome. Por isso eu gosto muito de conhecer o que acho que só eu conheço. Coisas que digo e que gosto de ouvir da tua boca. Tudo, tudo, mas mesmo tudo. Gosto mesmo de tudo o que dizes. 


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Time And A Half

De repente, passaram-se uns dias. Não passei para umas linhas a par destes dias. E, entretanto, algum tempo intenso e divertido de trabalho, e mais algumas aulas. Ainda redefinição de objectivos em relação a um projecto. Porque o tempo passa e passa e passa. E ainda ontem passei pela Estrela e as linhas do eléctrico apanhavam as nuvens. Assim, naquela piscadela celeste, como retive num segundo sem pensar (quase nada) na composição. Um destes dias hei-de levar a câmara e apanhar as linhas inteiras, todas as nuvens e até os badalos dos sinos se a bússola me ajudar a perceber a melhor luz com que caçar as coisas.


Mas então eu ontem, como dizia, pensei em parte da cidade enredada. Não apenas as linhas do eléctrico, também as dos passeios, as dos edifícios, as das janelas. A separação do rio em horizonte. Os traços interrompidos a meio da estrada. As linhas das nossas mãos. E quando hoje encostaste a tua palma à minha nós caminhávamos nas mesmas linhas. Agora eu posso trazer a imponência da Basílica, o lago do jardim, a majestosidade das árvores, as redes-guia do eléctrico amarelo, a correria para o metro, as voltas de carro (e eu acho sempre que faltam tantas palavras... Ou são cores sem nome ou nomes que não têm cor. E o formato dos teus olhos, a textura do teu cabelo: formato sem nome; textura sem nome, embora tão meus), mas diga eu o que disser: Não passei para umas linhas. O resto são desculpas para dez dias e juízos para dez noites. Não é uma coisa muito esperta: enganar-me. Mas se houvesse mais metade do tempo, talvez ainda me ocorresse o fio de luz da meia-lua, hoje espelhada nas águas de Sesimbra, e só porque foste tu que me mostraste aquela luz que flutuava turva, valeu para mim muito além de dez mil textos. Um dia muito bom. Só queria mais metade de um dia assim tão bom, para sempre.


sábado, 2 de novembro de 2013

What's In It For?

Dizem que para apreciarmos a felicidade (e o que é isso senão cada novo dia?) temos de conhecer alguma da agudez da alma, ou o seu lado escuro. Não sei se me quede perante esta, entre outras noções, ou, se corra pela vida abraçando cada instante - sem, contudo, me deter na catarse. Sou também capaz disso, de voltar atrás, querendo. Mas há esta velha mania de virar a cabeça para cima, como se no céu houvesse um lugar de respostas, onde o passado esticasse a mão ao futuro ditando o presente. Porém, nada é constante. As nuvens escrevem lá em cima sem um único ponto. Volto a olhar em frente, na direcção que eu fiz. Ainda tenho aqueles passos que antevejo mas ao fundo, lá longe, numa espécie de vidro despolido há-de estar o limite do meu sentido, afastando-se, para me deixar passar. E o vértice de uma seta não alcançável, no seu movimento uniformemente acelerado mas no plano horizontal, a menos de um metro da estrada, onde as pernas caminham. E o ar sem atrito, porque o que está por vir já ganhou o seu espaço muito mais à frente. Mas lembro-me bem de pensar o contrário. Cenários de juventude. Com aquelas cores fresquíssimas. Cantos arredondados com tempo de angularem, horas para mergulhar num sonho em crescendo. Hoje sei que lá à frente a película das memórias se compromete. Sei que nada é absoluto. Se eu quiser, posso fazer o pino para mudar a minha perspectiva. Depende das estrelas que eu tiver para assentar os meus pés. What's in it for me?