quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Putos a Roubar Maçãs

Há coisas que não têm maldade nenhuma. Já falei de o facto de se dizer «coisas» não trazer maldade nenhuma e outras há. Muitas mais. Tantas iguais inocências. O mundo é em tudo um tanto. Por exemplo, vou a caminhar descalça na praia e o mundo são inúmeros grãos. Ou, um búzio encostado ao meu ouvido, olho em frente e o mundo todo é o mar. O banquinho de madeira, vazio, e não é possível saber quantas pessoas já ali se sentaram. O mundo é todo esse passado de tempo e de gente. Mas já é tarde. Arrumo as minhas coisas. Deixo quase tudo para trás. Ouço o apito do comboio e dali a minutos sei que o mundo será uma sucessão de paisagens. Rápidas, muito rápidas. Tenho a mochila cheia de memórias. Cada peça uma história, com uma textura e um cheiro. Levo roupa para o frio, porque nunca se sabe. Ora faz calor, ora a noite vem ferozmente apertar-me os ossos, fazendo-me curvar. O mundo um tanto de poderes fortes. E a seguir vou mais longe. Aperto o cinto, vai daí aquele esforço inclinado no momento de levantar e o mundo é um tecto visto de cima com copas, telhados, uma geometria de caminhos, e até o mar de repente em silêncio: só uma página azul. Distante, muito distante. E nisto descalço-me e sinto areia entre os dedos dos pés. Apesar dos banhos que tomei. O mundo preso a nós. E agora vou estar aqui até aterrar. Tenho é vontade de comer qualquer coisa fresca. Vontade de subir a uma árvore. De ser criança e poder fazer o que nunca fiz. Vontade de ser ainda mais feliz. Como putos a roubar maçãs. 

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