terça-feira, 1 de outubro de 2013

Spiegel im Spiegel

Espelho dentro de espelho, dentro de espelho, dentro de espelho, dentro do desejo de se conseguir uma infinitude de imagens. Qual efeito matrioska sobre a reflexão da realidade. A luz labiríntica de captar um determinado momento fazendo com que vá diminuindo, encaixando-o perfeitamente em tempo real. Move-se um olho, e perpetua-se o olho novo, cada vez mais pequeno, na moldura da imagem seguinte: exactamente igual, porém, de dimensão proporcionalmente inferior. Ou seja, uma tentativa de se conseguir uma história interminável na ausência de construção nova. Na literatura, Michael Ende teve essa ideia em 1984. Dito de outra forma: apenas uma repetição em escala, integrada. Como um todo, dir-se-ia da organização de um rearranjo interminável fruto de uma ilusão que, instantaneamente, se vai sucedendo. Na música, um espelho dentro de um espelho amplia-se. Assim fez Arvo Pärt em 1978. Usou esta lógica de somar o mesmo ao mesmo, como quem caminha na areia molhada deixando para trás as suas marcas perfeitas. Ao lado, o mar muito vivo: um violoncelo. O som é também um conjunto de ondas, mas estas pegadas são notas e quando a água vem deixamos de as ouvir.

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