quarta-feira, 3 de julho de 2013

C o l d f i n g e r

Dedofrio? É nestas alturas que dou razão à Manuela Azevedo: em Inglês fica sempre bem. Esta banda, desalinhada do circuito nacional cedo me tocou especialmente. É claro que a voz da Margarida Pinto é suficiente para prender a atenção, no entanto, o facto de o Miguel Carmona ser um ex-Blasted Mechanism, e de terem contado com a colaboração de músicos como os Despe & Siga, Cool Hipnoise, Lisbon City Rockers, Arkham Hi-Fi, entre outros, fá-los originais e competentes nas criações que apresentam. 

Estávamos em 1999, quando apareceram com o “EP 01”. De entre os poucos temas, Shapeless com boa construção instrumental e alguma agitação ritmica fazia lembrar os Lamb num cenário mais límpido com os vocais esticados da Margarida em tom primo a Lou Rhodes - não seria honesto aproximar-lhes um parentesco maior -, havia traços fortes de trip-hop, drum n’ bass e, em termos gerais, encontrávamos também laivos dos Portished.  




Em 2000, Beauty of You do “Lefthand” um tema melódico ilustrado por um video de gosto discutível decorrido entre latrinas, lavatórios e espelhos imundos que nao faz jus à música, reintroduz nos Coldfinger os traços de trip hop num estilo paciente de downbeat. 


Por outro lado, em Para Um Poema quiseram preencher com poesia as linhas melódicas e harmónicas àquele seu ritmo de batidas suficientemente espaçadas retirando de uma máquina eléctronica o Getting Nowhere In a Hurry de Roy Budd para o Vingador, que depois de um molho de décadas só se deixa encontrar no prelúdio da faixa mas confere as devidas semelhanças. 


Dois anos mais tarde, em “Sweet Moods and Interludes” mantinham a linha do projecto electrónico, brindando-nos com Cover Sleeve uma faixa melancólica com piano  e provavelmente não haveria muito desacordo se dissesse que é a mais bonita música produzida pelos Coldfinger. Têm sido, com a simplicidade que conseguem impor, uma força singular no trabalho musical produzido em Portugal: há uma entrega grande porquanto cantam e tocam sentimentos evocando fortemente a saudade e a esperança.



Influenciada por Nina Simone, permanecia sobre a arquitectura instrumental uma Margarida Pinto através de uma voz envolta em sensualidade. Nessa altura, podiamos ouvir os Coldfinger encostados num filme, como em How Could Time. Liga-se um carro, encontramos a maré a subir mas não há mais mistério, os Coldfinger fazem o que sabem fazer, e reconhecemos-lhes com agrado que, apesar do interregno para “Supafacial”, mantiveram a sua linha condutora. 

How Could Time by Coldfinger on Grooveshark

Depois de um interregno, justificado por um “Apontamento” da Margarida Pinto a Solo e totalmente em português, em 2007 “Supafacial” surge numa nova direcção. A eximia voz de Margarida é empurrada para segundo plano e o género abandona o terraço largo do trip hop tornando-se mais pop, mais electrónico e mais dançável, como neste Dragonfly:

Dragonfly by Coldfinger on Grooveshark

Quase década ½ depois de se estrearem, regressam com álbum novo: “The Seconds”. Afinal o que mudou? Tirem-se as dúvidas em You Should Fall. O videoclip animado com a dança da letra, dispersa um pouco a atenção da música mas, essa, mantém-se igualmente dançante. Parece o continuar da linha do novelo de há 7 anos, longe das melodias iniciais da banda que primavam pela originalidade. Agora, apenas encontramos matizes baças de um maquilhado estilo novo. Não fosse a camuflagem da voz e mereceriam, ainda assim, ser louvados. Sem o calor da voz da Margarida a uma distância que se agarre podemos arriscar em bom português que, parece irreversível: o dedo ficou frio. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.