sábado, 6 de julho de 2013

Arc du Soleil et Pluie

Foi quando vivi além Tejo. Troia antevia-se oito pisos acima do chão. O néon repartia-se no hotel ao fundo. A serra quase em casa. Outra arrábida que não era ponte. E que lugar era aquele onde as praias não eram férias. O dia a dia quente. Os domingos, muitas vezes, café com pés descalços. Areia fininha. Calor no carro geralmente prenúncio de Figueirinha. Índigo, água. Anil, céu. A serra por trás. Verde. De noite, breu. Pele morena era, outras vezes, o terraço. Óculos escuros. Chapéu. Preto. Branco. E mais branco. E que lugar era aquele onde  o Sol predominava em tudo. Ardia. Nuvens raras. Prédios amarelos, outros de cor rosa. As noites estreladas como surpresas à espreita. Bordaduras de prata. E tanta vontade de ver. Assim era o Verão nas horas de Setúbal. 
De Inverno claro que chovia. Mas era outra frequência. O frio não batia com força. O nevoeiro não cegava a paisagem. Às vezes mangas curtas. O trabalho era mais horas na fábrica. Ainda o rodízio de peixe ao almoço ou, quando havia de ser, o bom choco frito chegava. Sesimbra tão perto. O Barreiro. Paragens de gente amiga. O ócio: apetite de escrita e pintura. Especialmente em dois mil e oito o universo sabia o quanto eu gostava disso. Um vez em Maio, a enviar-me aquelas cores:


E o que eu gosto de cores. Acho que aprendi ali a gostar ainda mais das cores, das coisas, de tudo. Até do Inverno. Porque entrevinha-se o resto. Às vezes Lisboa a dar-se a conhecer. O frio não era tão frio. Não seria coisa que esquecesse se o mesmo rigor do norte. Inundava-me o encanto de andar encantada. E que lugar era aquele de Bocage. Madrugadas novas por soltar. A estação em obras. O parque para correr. Polis entre avanços e recuos. O fórum encerrado na avenida. Aos poucos, a cidade renascia. Mudava ela em corrente como se tudo ligado. O choque entre as coisas. Primeiro no rio, depois nos sulcos, lá em baixo, na terra por semear. Aberta ao vento e no ar a subir. Na minha janela havia horizontes suspensos ao longe. O vidro a separar o que estava por vir. E fui embora antes que os golfinhos saíssem da rotunda para o jardim. Tive de seguir. Em cada caminho existe um fim e que terra era aquela.

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