quinta-feira, 27 de junho de 2013

The Power of The Scream

Foi Edvard Munch que me levou a Oslo porque cresci curiosa com O Grito


Não era a ilustração da angústia que eu queria ver. Nunca foi. Era aquela produção que prevalece no tempo, cores irrepetíveis e verbos que vão muito além da tinta: um olhar frontal que não é humano e não é inumano, é O Grito. Os pintores comunicam através das obras, muito mais ao vivo do que nas imagens dos livros ou das que abundam no ciberespaço. E, na verdade, eu quis ouvir o quadro. A tela há 120 anos podia pretender ivocar morte como muitos defendem, mas foi Sebastian Cosor quem deu vida ao quadro, retirando O Grito da perpétua imobilidade malfadada por Munch. Na animação, o momento chega a ser cómico (e mais ainda na versão de inverno):



A música The Great Gig In The Sky dos Pink Floyd foi soberbamente escolhida para acompanhar o vídeo. O diálogo, parte integrante do tema, é sobre morte e respectiva aceitação: 

"And I am not frightened of dying, any time will do, 
I don't mind. Why should I be frightened of dying?
There's no reason for it, you've gotta go sometime."
"I never said I was frightened of dying."

Na versão original é Clare Torry quem causa arrepios e tudo isso sem dizer uma única palavra porque é também esse o poder que o grito contém. Quando os Pink Floyd, na pessoa de Alan Parsons, convidaram esta mulher para ensaiar a música, ela não sabia o que fazer, pediram-lhe que improvizasse e ela começou por evocar alguns “Oh yeah baby” rapidamente recusados por  Richard Wright. Depois de se familiarizar com a versão instrumental da composição, teve a ideia de utilizar a sua voz como se se tratasse de mais um instrumento e o resultado foi estonteante. Torry chegou a ter algumas participações ao vivo tendo sido a primeira a 4 de Novembro de 1973 num concerto de beneficiência para Robert Wyatt (baterista dos Soft Machine) no Rainbow Theater (Londres), e, posteriormente, outras como esta, em 1987, na Wembley Arena (Middlesex, Inglaterra):

Se não houvesse os vocais femininos a compor esta canção o resultado seria uma fórmula incompleta, cuja versão despojada de voz nunca poderiamos comparar:


Em 2004, Torry processou os Pink Floyd e ganhou o caso, adquirindo direitos na autoria da letra. Mas The Great Gig In The Sky continuou a ser tocado ao vivo com resultados espantosos, como as covers de Bianca Antoinette entre muitas interpretações de diferentes cantoras. Mas vale a pena (re)abrir o palco do Royal Albert Hall (Londres), para (re)ver Ola Bieńkowska usar os seus vocais:



No entanto, há mais por vir. Damian Darlington criou o Brit Floyd - The World´s Greatest Pink Floyd Show  para comemorar o lançamento do best of da mítica banda britânica, intitulado "A Foot In The Door", espectáculo esse que passará também por Lisboa e Porto nos dias 13 e 14 de Dezembro, respectivamente. The Great Gig In The Sky faz parte do alinhamento. 

Existem livros/guias que recomendam um determinado número de locais para visitarmos antes de morrer. Cada um de nós terá os seus lugares de eleição. Eu penso acrescentar à minha lista um destes recintos, em dia de concerto, repleto de gente, onde acredito poder realmente ouvir O Grito porque, afinal, já fui mais longe.

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