terça-feira, 18 de junho de 2013

B a l m o r h e a

Não é muito provável uma pequena cidade do Texas intitular uma banda de rock, não fossem os seus membros originários da vizinha Austin, à distância de seis horas de território americano. A banda foi formada em 2006 por Rob Lowe e Michael Muller e no final de 2012 contabilizavam 5 álbuns originais e mais 4 elementos. Detentores de influências várias, sobretudo reminescências da folk a par do magistral estilo clássico, revelam-se na calha de nomes tão díspares como Max Richter, John Cage, Morrisey, Yann Tiersen, Arvo Pärt, Ludovico Enaudi, Beethoven, entre muitos outros.

via Magnet Magazine

A captação de sons e tentativa de controlo sobre estes é uma investida poética no campo da improvisação estruturada. Intimistas, estes norte-americanos, primam pelo recurso a uma mescla de instrumentos de cordas, desde o banjo ao violoncelo aliando a percussão apenas para garantir a compleição ritmada das construções tocadas. Por vezes, a voz eleva-se à laia de um adicional instrumento novo sem intenções de distração mas como complemento da própria linguagem de colcheias desprovida de narrativa. Existe uma harmonia de partitura,  óptimista e de rara beleza. 

Em 2007 editam o primeiro álbum com o mesmo nome donde se extrai este A Circumnavigation no qual se respira ar de montanha na harmonia das flutuações musicais, com um horizonte de chuva que não abandona o cenário bucólico característico. Uma comunhão onírica onde a natureza para coexistir sem necessidades supérfulas para lá do experimental. Outros elementos podem aguçar as baladas: há bichos notívagos, ou uma máquina de escrever frenética como em In the Romans e, em Baleen Morning, abrimos a janela a um novo dia e desejamos não esgotar os 3 minutos e meio de sol que se sente num magnífico crescendo a consumir-se apenas na última nota. No ano seguinte, lançam "River Arms" mais pontilhado de violinos e teclados onde as baladas surgem mais intempestivas como em The Winter. Existe mais movimento e pode reconhecer-se a passagem de comboios em lugar da natureza, como em Greyish Tapering Ash.

Em 2009, a confiança aumenta e surpreendem com "All Is Wild, All Is Silent" podendo mesmo apanhar desprevenidos aqueles que os julgaram arrumados em prateleiras sujas de pó, pois irrompem com uma efervescência revigorante, distanciando-se do som pastorício originário. Em Harm and Boon reconhece-se que o dueto se expandira o que é notório nas novas proporções experienciadas atingido-se ritmos não antes ousados. Em Remembrance, voltam a revisitar as mesmas paisagens texanas que inspiraram Ry Cooder e Ennio Morricone mas quebram a linha original com o culminar numa frequência mais austera e vibrante em coerência com o sangue novo do álbum.


Em geral, existem mais guitarras a conferir textura e, paradoxalmente, a natureza antevê-se através de chants tribais que, nas mesmas montanhas, fazem redescobrir os Sacred Spirit da década de 90 ainda que em muito baixo tempero. Em November 1, 1832 dá-se um momento magnífico do álbum onde o convidado Jesy Fortino interpreta com concisos vocais a magia intraduzível da faixa.

Se dúvidas havia, em 2010 regressam com "Constellations" para comprovar a sua maturidade no género alternativo e pós-rock. O resultado é brilhante em Bowsprit conservando-se as amplitudes de frequência do albúm anterior mas já sem efeitos surpresa, apesar da heterogenia sonora. E, até um dado momento, são inevitáveis as comparações aos Sigur Rós em Palestrina, mas a autenticidade da banda assume-se fazendo repensar as semelhanças e desviando a pseudo-ligação. Em Night Squall podemos deixar-nos embalar na certeza do regresso. O piano apresenta-se mais apetecível e é recorrente em todo o álbum mas especialmente em The Order of the Night e em Winter Circle onde, apesar da atmosfera melancólica, um coro de vozes soa pouco menos que perfeito. Num disco tão capaz não faltou também um apontamento jazístico (On The Weight of Night) para enaltecer ainda mais o ambiente geral. Em suma: um trabalho difícil de deixar de ouvir. A promessa de 2006 reaparece em 2012 com o álbum "Stranger". Ainda estou a experimentá-lo. Soa mais electrónico mas não se perde da trilha indie/instrumental. Sigo e deixo-vos Pyrakantha para absorção lenta. Há digestões que merecem o seu tempo.