domingo, 23 de junho de 2013

N y c t a l g i a

Em Nyctalgia não há muito para ver mas é imprescindível reparar. Dentro dos géneros ambiente, pós-rock e shoegazing, todas as operações são reguladas por um único elemento, Silvio Pfiffner. Com raras habilidades para, a solo, pôr em marcha composições optimizadas por recurso a guitarra, baixo, piano e bateria, o resultado é uma experiência bem trabalhada que se divide em configurações funcionais para ouvir enquanto nos podemos ocupar de outras tarefas. Traduzindo à letra, tratar-se-ia de uma patologia associada à dor que apenas se sente à noite e nas 6 faixas originais nenhuma é isenta de mensagens sentimentais sem que necessariamente nos sejam induzidas disposições mais macambúzias. 

O projecto terá tido início algures por 2007 e com alguma falta de dinheiro para gravar em estúdio, este músico amador, natural da Suíça, ainda com 23 anos continua atrás de uma companhia discográfica que o represente. Em 2009 lançava “Time Changed Everything...”, uma demo limitada a 150 cópias com apenas 5 faixas, de onde se extrai este Mira...


Tema assombrosamente edificado com uma poesia vocalizada bem sustentada pela globalidade da composição que se vislumbra muito bela no seu conjunto. A letra foi divulgada com múltiplas reacções de apoio na página do facebook dedicada pelo autor a este projecto: 

"I still live in the dream we shared,
I sail the sea where our souls always fell
asleep.

Where are you now? I still need you!
Awash in a whirl of memories, I beg
but you just turn
away...

In the deep night my heart still weeps,
haunted by the blue eyes
that once smiled
at me alone.

Only pain remains of our love...
a world a loving year created...
In a single second you destroyed my world.
Now my dreams are gone...
and the door is closed forever.
The first tear cast me into nothingness.

And yet your voice whispers to me still
a hopeless song of love."

Podemos também ouvir os sons do mundo deixando-nos ir pela mão de Pfeiffner. Em Time Changed Everything... a experiência é bem conseguida através dos intervalos do piano mantendo-se presente o ruído da chuva e trovoadas como pano de fundo, terminando apenas com as vagas do mar somadas ao silêncio e adivinhamos que está de noite. Em Ort Der Toten Namen a chuva aparece sob a forma de biombo inicial mas é o choro humano que acompanha a maioria do segmento musical. Por outro lado, o riso de crianças surge na parte final de Falling Into Nothingness, e Remains of a Blue Rose, apesar de soturna, antecipa uma espécie de alvorada que, na verdade, nunca chegamos a acolher ao longo do álbum. Em Coming Home há cânticos que evocam mitos de deuses e paraísos por descobrir, que a vibração do piano não pretende esconder mas um quarto da música é composto somente pelos coros e pelo vento para melhor ouvirmos o apelo do natureza nesse extracto de som. A primeira faixa com o nome do projecto, Nyctalgia, oferece uma estrutura mais sólida, mais amadurecida onde os vocais arrastados ecoam celestialmente e as restantes músicas parecem servir-lhe de atalho.

Em 2010 sai um majestoso single “Lost in Timeless Horizons”, perante o qual custa a acreditar tratar-se de obra de uma só pessoa. Indelevelmente associado a outras sonoridades como God Is an Astronaut, Sigúr Rós, Rachel’s, entre outros, em Lost in Timeless Horizons, Nyctalgia compõe um hino: 


No início de 2013, Pfeiffner revelou, através do Facebook, a sua participação num novo projecto intitulado Krane algo diferente de Nyctalgia, contando com mais 3 elementos conterrâneos de Basel e tudo indica que tenha desistido dos trabalhos a solo. Na passada sexta-feira os Krane anunciaram o término das gravações pelo que se adivinha que o primeiro álbum deverá sair em breve. 

Como a capacidade de criar momentos épicos não é para qualquer um, e, não sabendo o que o futuro reserva, vale a pena desfrutar desta meia-dúzia de ovos de ouro porque o tempo, esse, muda tudo.

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