sábado, 15 de junho de 2013

O sentido do tempo


O mundo é a aresta de um quadro vivo
dependendo do horizonte.
Vejo nuvens que arrastam levemente os céus
e verdura espalhada ao acaso.
As casas descansam de janelas abertas:
O branco caiado
Os telhados desencontrados
Telhas-caminho de gatos
Gatos que passam devagar
E param
E olham
E permanecem.

Mais tarde, o vento visitará solitário a noite
Cruzam-se carros e estradas,
Afinando levemente o silêncio da vila

É tarde.
É tarde e é quase cedo também.
As nuvens começam a desaparecer,
consumidas por um manto negro,
seguro por botões de estrelas
Amanhã tudo voltará a ser hoje.
Porque amanhã já é hoje.
O manto desapareceu.
Os bichos da noite calaram-se.
As casas sobraram no mesmo lugar.

E que lugar era aquele onde achávamos ser o princípio?
Que lugar era aquele que parecia ter tempo e não tinha?

Ontem na mesma as nuvens corriam.
O vento despertava as folhas das árvores
crescidas no monte.
E afinal o mundo acordado
desde muito antes de nós.

As nuvens todas de acordo no sentido direito do tempo
lembrando-me o mar.
Jamais em sentido diferente.

Sempre todos os tamanhos das nuvens
Suspensos em fios de azul.
E, de vez em quando, chocando-se.
De vez em quando, a chuva a dar vida à terra.
E a terra a beber dos céus
lembrando-me os rios,
caminhando para o mar.
O ponto da foz.
Jamais em sentido diferente.

Lembrando-me o sangue
bombeado da aorta,
a caminho de tudo dentro de nós.
Jamais em sentido diferente.

O coração.
Primeiro.
Sempre primeiro o coração.
E são os olhos que  vêem.
As mãos sentem o que fazem
E mesmo que só a voz dos pássaros me chegue,
não importa o quanto eu cheire a paisagem
porque o coração
primeiro
a enviar-me o sangue
a todos os sentidos.

Castelo de Vide, 27 de março de 2013

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