sábado, 22 de junho de 2013

H a m m o c k

Em português denominam-se “rede de descanso” e a ideia condiz com a atmosfera repousante dos temas. Não aparecem nos circuitos mais comerciais e, no entanto, são especiais na qualidade e quantidade de experiências e improvisos de estúdio.

Formada pelos guitarristas Marc Byrd e Andrew Thompson, originários de Nashville (conhecida como a “Cidade da Música” no Tennessee), a banda edita o primeiro álbum “Kenotic” em 2005 com composições instrumentais suaves e equilibradas que confluem no género experimental e ambiente, dentro da nova era do shoegazing revelando ainda assim uma identidade própria. Descrevem as suas músicas sob a influência das infindáveis paisagens do sul rural americano. Parecem simples mas são complexas em cada registo denotando mestria na revisão sónica e no uso de sintetizadores. Cada faixa de “Kenotic” parece tratar-se de um único som anguloso que se deixa expandir com pequeníssimas variações de frequência. Apesar de, neste álbum, não existirem grandes diferenças rítmicas com a excepção do tema Wish, o duo revela a capacidade de fazer transparecer em temas maioritariamente instrumentais os seus próprios títulos, como em Blankets of Night 




através de ruídos nocturnos introduzidos em jeito de antecâmara e em Overcast/Sorrow, onde a música flui na mesma vastidão do céu e onde os violinos incluem certa melancolia, como encontramos em William Basinski, Harold Budd ou Brian Eno. Genericamente, as distorções são uma nebulosa uniforme e vasta num ambiente calmante.

Em 2006 lançam “Raising Your Voice… Trying to Stop an Echo”, no mesmo registo do anterior trabalho, contando esporadicamente com a participação da voz de Christine Glass Byrd em combinação etérea e na mesma fluidez da guitarra que parece expandir-se indefinidamente como em I Can Almost See You, tratando-se de um novo hino à beleza. Em The House Where We Grew Up sente-se uma serena alegria intemporal e bem podia encontrar-se uma guitarra acordada dos Smashing Pumpkins desde que fosse apenas um dos elementos constituintes dentro da escultura de som criada pelos Hammock. Em Take a Drink from My Hands, andamos de estrela em estrela pisando um espaço etéreo onde contemplamos uma nova dimensão de relaxamento embora possamos recordar os Boards of Canada na mesma atmosfera espacial. Inovam com as suaves batidas de tambor em Disappear Like the Morning e com o violoncelo de Matt Slocum quebrando ligeiramente a atmosfera nublosa e exaustivamente uniforme do álbum. Um trabalho sublime que merece ser ouvido muitas vezes sem o risco de cansar.

No ano 2007, são convidados pelo duo Jónsi & Alex para se estrearem ao vivo em colaboração com estes aquando da apresentação de “Riceboy Sleeps”. E em 2008, sai “Maybe They Will Sing for Us Tomorrow” onde as comparações são evidentes e é tempo de introspecção. Continuamos a vaguear no espaço numa linha contínua na qual se sente menos o peso das distorções. De faixa em faixa somos capazes de auscultar apenas ligeiríssimas variações de som. Mono no Aware é uma amostra:




Em “Chasing After Shadows... Living with the Ghosts” de 2010, a assinatura é evidente, persiste a intenção de coerência, no entanto, a percussão apresenta-se mais presente nas peças e a guitarra é dedilhada em Breathturn e No Agenda Instrumental. As interjeições encostadas sem palavras aproximam deste duo outras bandas como, é exemplo, os God Is an Astronaut. In the Nothing of the Night revela a recorrência aos violinos mas talvez esta faixa seja demasiado longa e The World We Knew As Children poderia ser o cartão de visita dos Hammock com tudo o que têm de melhor: 




Com “Departure Songs” em 2012, a sonoridade e o horizonte mantêm-se expansivos. Continuamos a ser embalados num ambiente um pouco artificial onde nos permitimos flutuar porque cada nota faz sentido. Podemos associar sempre um misto de sentimentos antagónicos quando estamos perante os Hammock, e, apesar de os próprios títulos normalmente indicarem uma direcção mais sombria, podemos escolher o que sentir, no mesmo tecido fluido do austríaco Christian Fennesz ou do texano Brian McBride (Stars of the Lid) onde um gigante novelo de som se desenrola vagarosamente e flutua no ar, fugindo no horizonte. Em Cold Front a tristeza não nos contamina porque a música é cristalina e credível sendo uma composição igualmente transcendente mas muito menos negra que outros trabalhos instrumentais como o dos Godspeed You! Black Emperor. Em geral, ao longo do duplo álbum, as faixas estão mais contrabalançadas e os temas mais longos ganham harmonia de conjunto. Podemos sentir-nos menos à deriva do que em anteriores trabalhos. 


Aguardemos por “Oblivion Hymns” com lançamento previsto para Outubro, sem verdadeiramente pedir que nos surpreendam. Talvez fosse mais fácil inovar a receita com uma sonoridade mais intrusiva mas esta não é uma banda para se ouvir a correr. Os Hammock são uma rede de som tecida com fio-trama de seda e fio-teia de nuvem, leve mas consistente, onde nos podemos deitar para sonhar.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.