sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Perth

Este blogue é também para ir colando poemas. Ainda que eu não venha muitas vezes carregada com as linhas comprometidas para essa função. Uma coisa é aventurar-me pela web a agarrar aquela música que quero. Outra, é ir dentro de mim onde só eu moro e puxar esses versos muito acertados, sentir-me bem com a música que irradiam e a seguir, partilhar a poesia. Isso acontecer é mais difícil, claro que é mais difícil. Puxo de um lado, começo a ter as primeiras palavras para dizer e soltam-se-me outras dentro da pele. Perco-as. E primeiro que tornem a sair... Antecipam-se outras novas, claro. Fazendo-me esquecer as primeiras, as mais tímidas. Sabe-se lá por mais quanto tempo entre as artérias, ou abraçadas aos ossos para não saírem cá de dentro. Pois não há-de ser muito diferente a corrida aos óvulos: tanto falhanço junto, meu Deus. Já pensei tentar ir buscar as palavras que eu preciso aos centros comerciais ou às lojas tradicionais da minha rua. Ando a ver se as encontro. Mas não as vejo nas prateleiras. Há os códigos de barras. E eu já me cansei de números e letras no mesmo binómio. Então dirijo-me ao balcão. Mas há coisas que ninguém vende. E se peço por palavras, por poemas, vêm dar-me outras sugestões. Obrigada a todos, mas não são os meus poemas nos livros dos outros. Por isso, os meus ainda são, às vezes, as minhas fotografias. E eu gosto disso. Tantas cores para inventarmos palavras. Ou se tiver sorte. Muita sorte, como tantas vezes tenho, eu ponho as fotografias e as minhas palavras racham-me os poros para as espreitarem. Vou apanhando algumas e quase escrevo poemas com elas. Às vezes até as letras soltam os minúsculos dedos umas das outras, quebrando-se o elo. Queria escrever Poesia e elas ditaram Perth. (Nem merece a etiqueta.) Das seis letras comandei só duas e não sei aonde foi parar a sexta, mas de repente acho que cheguei à Austrália.