sábado, 24 de agosto de 2013

We Are Electronic Performers

Não são assim tão escassas as alturas em que a música electrónica me assalta. Esta dá logo vontade de começar a acompanhá-la. Sem tempo para passar no bengaleiro ou ir buscar qualquer coisa para beber. Não preciso de beber. Não fumo. Mas a pista é minha. E nada de grandes movimentos de dar nas vistas. Apenas aquelas deambulações que nos libertam no lusco-fusco. Sobretudo o pescoço. O corpo também faz a sua parte, repartindo-se nas várias camadas de ar. E justamente falava-se dele em francês. Corrigo: escrevia-se. Ou melhor: eu escrevo. (E aqui para nós, acho que toda a gente que escreve blogues pode e deve considerar-se um artista electrónico. Porque não? Faz sentido. Dámo-nos a esta tarefa de estarmos aqui sem sabermos para quem. Reunidos neste trânsito de electrões. Mas é bom estar aqui e ver-vos nas filas ao lado: We are electronic performers.) E entretanto alguém, ali do canto, começa a soprar bolinhas de sabão que vêm na velocidade possível. Eu vou-me desviando. Não muito depressa. Não muito devagar. Algumas explodem sem me chegar a tocar mas nascem logo outras novas. Continuo a ouvir. Gosto especialmente das três batidinhas rápidas em sequência. A mão imagina-se a agarrar uma baqueta e simula a percussão. O gozo que isto dá. A sala enche-se de pequenas bolas que reluzem à passagem da luz. Tantas cores. E o que eu gosto de cores. E o que eu gosto de música. Ao primeiro minuto e doze segundos esta cumpre a sua aceleração. Olhamos a reparar nos passos dos outros, o ritmo repete, insiste, as teclas aparecem no lugar das bolinhas porque ocupam todo o espaço onde nos devemos concentrar e ao minuto e cinquenta e um “We are the sincronizers/ Send messages through time code/ Midi clock rings in my mind/ Machines gave me some freedom/ Synthesizers gave me some wings/ They drop me through twelve bit samplers/ We are electronic performers/ We are electronics” e embalamos outra vez a anca e soltamos o pescoço. A orquestra obriga a fecharmos os olhos para sentirmos. E eu fecho os meus olhos. Gosto de não saber se já amanheceu lá fora e, de olhos fechados, não posso continuar a escrever.


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