sexta-feira, 23 de agosto de 2013

I'm Waiting Here

Será “a” utopia? Sonhar. Acreditar. E pensar que às vezes achamos que sabemos sobre o melhor caminho. Na verdade, não sabemos, apenas intuimos porque sentimos. A estrada continua em frente. Os horizontes vão-se alterando se repararmos nos lados: um grupo de ovelhas num passado que ali permanece; vacas deitadas ao sol; as árvores por tantos anos de pé; mas a vida ainda assim, sempre em frente. A noite vem retirar alguma definição e a estrada continua até que a placa onde se lê “Agora” surge no caminho para nos despertar. Nada tão racional ou matemático como aprenderamos antes. Porque há muitas casualidades que não são ensinadas. Vicissitudes. E pensar que podiamos prever. Pudessemos e o brilho do momento em manchinhas nebulosas fictícias. Não estava escrito. Não havia forma de saber. Vai tudo acontecendo. E continua. Mas não existe onde descobrir sobre o que aí vem. Só mais tarde. Quando vem e vemos. Os livros técnicos a tentar explicar tudo mas eu embrenhada em poemas e sonhos. A ver respostas no vento, nas aves, na música, no atropelo das coincidências mesmo sabendo que, em regra, a poesia é considerada como uma forma literária de pouca comunicação. Penso nisto: há uma certa elasticidade nesta noção para os outros que não provêm pela via da regra; o Hérberto Hélder a dizer: “Ah! Um poema feito sobretudo de fogo forte e silêncio” e o Al Berto a dizer no Incêndio “se (...) a sombra duma cidade surgir na cera do soalho e do tecto cair uma chuva brilhante contínua e miudinha - não te assustes”. E eu nunca me assusto. Mas quem escolhe a linguagem é o coração. E sem nos olharmos de frente não podemos contar tudo. Vives as tuas coisas. Vivo as minhas. E vou esperando aqui que possamos fazer dos nossos episódios um só livro. Havemos de juntar as nossas comédias e os nossos dramas e assistir juntos à nossa vida. Apesar dos oito mil quilómetros nos separarem ainda. A saudade diz-me dos oito mil quilómetros porque hoje fazes anos. A estrada continua em frente. Experimento olhar o céu. Passam aviõezinhos que dizem do pouco tempo dos nossos dedos se encontrarem. Sorrio. E espero por ti. 


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.