quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Together in Electric Dreams

Esta música tem um je ne sais quoi pouco simples de explicar. Tratando-se de um cover, há reminiscências óbvias de Phil Oakey (Human League) & Giorgio Moroder, da altura em que propositadamente foi criada para o filme Electric Dreams de ´84. Porque há músicas que nascem sob encomenda. E, na verdade, são muitas. Em diferentes áreas existe igualmente uma ideia e a sua concretização. Que é a intenção mais primordial. Tem outra vez que ver com a escala da importância: o que é enorme para mim pode passar-te ao lado, ou melhor, em cima, porque o que é mesmo grande (para mim) têm dimensão de nuvem. E depois há aquela concepção extraordinária da nuvem ser algo diáfano que ao mesmo tempo não existe. E, no entanto, água condensada esticando-se na paisagem. Uma excepcional musselina que só podemos tocar em sonho. «We`ll always be together/ However far it seems/ (love never ends)/ We`ll always be together/ Together in electric dreams.» Não me lembro de melhor explicação para isto do que a sucessão dos Equivalentes que Alfred Stieglitz tirou entre 1925 e 1934, conferindo uma nova linguagem à fotografia. De imagem abstracta, modernista, tornando-a num instrumento autónomo de Arte, porque «Sometimes it's hard to recognize». E andamos há séculos a tentar provar aquilo em que acreditamos. A querer validar a nossa razão. Como se nós não nos chegássemos a nós próprios. Não posso dizer que não gosto de sentir a força da minha convicção. Gosto. É uma cadeira confortável. Sento-me e sei que quando me levanto alguém repara que estou a levantar-me. Mas qual é a importância disso que não seja momentânea? Amanhã posso ser mais um ponto na multidão. Ou uma partícula de água que cai em chuva e te bate na cara se tiver mesmo muita sorte: aquela sorte enorme de te tocar. E, neste caso, é muito melhor cair do que levantar-me. A tal escala das coisas à minha dimensão. E parece que só eu posso sentir-me assim: achar que o Amor nunca acaba. E depois vem esta música e eu fico pequenina a reparar que os parênteses nem sequer se ouvem, ao contrário das palavras.



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