terça-feira, 26 de novembro de 2013

The Party

Ninguém tenha dúvidas sobre a capacidade de sentirmos a vida do interior para o exterior. «Fazer a festa» tem pouco que ver com organizar eventos a pretexto de... (bem, talvez de tudo), e receber pessoas, gente, muita gente, muita além da necessária. (Às vezes parece que a multidão mascara o vazio, parece.) «Fazer a festa» não é uma desculpa para carregar na maquilhagem, nem para prestar maior atenção ao pormenor: o glamour da roupa nova, tornar o dia especial. Todos os dias são especiais. É isto: Todos-os-dias-são-especiais. Agora, por escrito: cento e três vezes na ardósia. Em caixa alta: Todos-Os-Dias-São-Especiais. Cento e três, justamente, para não me reduzir ao cem de todos os dias. (E o que será isso de ser diferente? A Annie Leibovitz declarou que nunca pediu a ninguém para sorrir antes de disparar a câmara. Penso que poderá ser isto, o tal «ser genuinamente original». Eu já não vou a tempo de afirmar o mesmo.) Por isso, façam o favor de sorrir e, já agora, façam também o favor de «fazer a festa»: pegar na mão, levá-la ao «objecto», e passeá-la, corrê-la no «objecto». Instalar-se-á uma felicidadezinha de balão a encher. Nem sempre é possível fazer isto. Levar a mão. 

Out of Africa, Lisboa
(c/ Panasonic DMC-G5)
Então, olhemos à distância, segurando aquele momento. Como eu ali há uns dias, de poltronas nas pálpebras. Lembro-me de estar a sorrir aturdida pela vontade de esticar a minha mão. Uma mão que esticado o braço não chegaria. E a vontade passa a ser a de me demorar naquilo porque o coração está cheio. Tão cheio. De maneira que consigo tocar no «objecto» porque sinto isso por dentro. Há coisas que não têm de ter explicação. Gosto mesmo muito de animais. E foi tão bom quando o Sol de repente veio cobri-los. Cheguei a pensar que ia faltar à festa mas, a minha mão a agarrar em cheio aquilo tudo: o mundo em rotação e naquele quadro (sem tempo e sem espaço) uma beleza muito pura de savana, o Sol a acomodar-se, a tranquilidade da vida, aquele presente muito presente, o futuro a parecer muito vivo e aquela certeza inteira de sentir (muito mais que cento e quatro vezes) que todos os dias são mesmo especiais.