segunda-feira, 25 de novembro de 2013

El Corazon

África, não seria o lugar errado para eu estar, agora.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Before Your Very Eyes

Mais um trabalho de Andrew Thomas Huang. Desta feita, agiganta-se a cabeça de Thom Yorke, as mãos, o busto. As dunas surgem liquefeitas dissolvendo o corpo do cantor. Nasce uma multidão de edifícios e candeeiros e viadutos compridos. Mas tudo se desmorona, engolido por um grande buraco escuro, a ponto de nos desejar uma boa-noite. A Vanessa da Mata iria gostar do início desta música. E eu devia ter começado por dizer isto porque a música vem primeiro do que a imagem. Mesmo que milhares de partículas de areia vestidas em florestas virtuais da Missoni e um ralo enorme por baixo, sugando-as. É enorme mas não consigo chegar a ver. Qual é então o propósito dos vídeoclipes? Provocar a distracção deliberada? Enriquecer o discurso sonoro pela sobreposição das correntes artísticas? É talvez como fazer uma tatuagem para elogiar a pele. Eu prefiro vestir uma camisola quente. Apesar da qualidade dos vídeos é primeiro que ouves a música diante dos teus olhos.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Together in Electric Dreams

Esta música tem um je ne sais quoi pouco simples de explicar. Tratando-se de um cover, há reminiscências óbvias de Phil Oakey (Human League) & Giorgio Moroder, da altura em que propositadamente foi criada para o filme Electric Dreams de ´84. Porque há músicas que nascem sob encomenda. E, na verdade, são muitas. Em diferentes áreas existe igualmente uma ideia e a sua concretização. Que é a intenção mais primordial. Tem outra vez que ver com a escala da importância: o que é enorme para mim pode passar-te ao lado, ou melhor, em cima, porque o que é mesmo grande (para mim) têm dimensão de nuvem. E depois há aquela concepção extraordinária da nuvem ser algo diáfano que ao mesmo tempo não existe. E, no entanto, água condensada esticando-se na paisagem. Uma excepcional musselina que só podemos tocar em sonho. «We`ll always be together/ However far it seems/ (love never ends)/ We`ll always be together/ Together in electric dreams.» Não me lembro de melhor explicação para isto do que a sucessão dos Equivalentes que Alfred Stieglitz tirou entre 1925 e 1934, conferindo uma nova linguagem à fotografia. De imagem abstracta, modernista, tornando-a num instrumento autónomo de Arte, porque «Sometimes it's hard to recognize». E andamos há séculos a tentar provar aquilo em que acreditamos. A querer validar a nossa razão. Como se nós não nos chegássemos a nós próprios. Não posso dizer que não gosto de sentir a força da minha convicção. Gosto. É uma cadeira confortável. Sento-me e sei que quando me levanto alguém repara que estou a levantar-me. Mas qual é a importância disso que não seja momentânea? Amanhã posso ser mais um ponto na multidão. Ou uma partícula de água que cai em chuva e te bate na cara se tiver mesmo muita sorte: aquela sorte enorme de te tocar. E, neste caso, é muito melhor cair do que levantar-me. A tal escala das coisas à minha dimensão. E parece que só eu posso sentir-me assim: achar que o Amor nunca acaba. E depois vem esta música e eu fico pequenina a reparar que os parênteses nem sequer se ouvem, ao contrário das palavras.



quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Baby Says

A conjugação de uma voz feminina e de uma masculina. Uma noção de marca d'água usada com grande acerto sobre uma composição musical. Ou uma vibração escalonada o que, por outras palavras, é dizer mais sobre essa dinâmica. Porquanto até na música se bem percebe a vantagem de uma relação relativamente a ambos os elementos a sós. Soa melhor a complexidade das cordas vocais onde se encontra a junção das sub-componentes. Privilégios de espaço num território sonoro. Mas nem todos os recursos combinam assim, aliados à música. Ponho-me logo a imaginar este duo em palco. Cada um a pilotar o seu microfone. Cantam olhando directamente entre eles, de modo que os olhos alinhando oscilações de timbre, antevendo manobras para se manterem a par e, como consequência, muito mais força dada à letra. E muito mais gravidade, muito mais estrutura dada à canção. O significado da letra não é mesmo nada importante. A imagem de estarem juntos sim. E por falar nisso hoje era dia de... Não te dizer adeus... Esta palavra não é coisa que se diga a quem se ama. E eu ainda ontem dizia que nem tudo o que é inominável é mau. Há tanta coisa sem nome. Por isso eu gosto muito de conhecer o que acho que só eu conheço. Coisas que digo e que gosto de ouvir da tua boca. Tudo, tudo, mas mesmo tudo. Gosto mesmo de tudo o que dizes. 


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Time And A Half

De repente, passaram-se uns dias. Não passei para umas linhas a par destes dias. E, entretanto, algum tempo intenso e divertido de trabalho, e mais algumas aulas. Ainda redefinição de objectivos em relação a um projecto. Porque o tempo passa e passa e passa. E ainda ontem passei pela Estrela e as linhas do eléctrico apanhavam as nuvens. Assim, naquela piscadela celeste, como retive num segundo sem pensar (quase nada) na composição. Um destes dias hei-de levar a câmara e apanhar as linhas inteiras, todas as nuvens e até os badalos dos sinos se a bússola me ajudar a perceber a melhor luz com que caçar as coisas.


Mas então eu ontem, como dizia, pensei em parte da cidade enredada. Não apenas as linhas do eléctrico, também as dos passeios, as dos edifícios, as das janelas. A separação do rio em horizonte. Os traços interrompidos a meio da estrada. As linhas das nossas mãos. E quando hoje encostaste a tua palma à minha nós caminhávamos nas mesmas linhas. Agora eu posso trazer a imponência da Basílica, o lago do jardim, a majestosidade das árvores, as redes-guia do eléctrico amarelo, a correria para o metro, as voltas de carro (e eu acho sempre que faltam tantas palavras... Ou são cores sem nome ou nomes que não têm cor. E o formato dos teus olhos, a textura do teu cabelo: formato sem nome; textura sem nome, embora tão meus), mas diga eu o que disser: Não passei para umas linhas. O resto são desculpas para dez dias e juízos para dez noites. Não é uma coisa muito esperta: enganar-me. Mas se houvesse mais metade do tempo, talvez ainda me ocorresse o fio de luz da meia-lua, hoje espelhada nas águas de Sesimbra, e só porque foste tu que me mostraste aquela luz que flutuava turva, valeu para mim muito além de dez mil textos. Um dia muito bom. Só queria mais metade de um dia assim tão bom, para sempre.


sábado, 2 de novembro de 2013

What's In It For?

Dizem que para apreciarmos a felicidade (e o que é isso senão cada novo dia?) temos de conhecer alguma da agudez da alma, ou o seu lado escuro. Não sei se me quede perante esta, entre outras noções, ou, se corra pela vida abraçando cada instante - sem, contudo, me deter na catarse. Sou também capaz disso, de voltar atrás, querendo. Mas há esta velha mania de virar a cabeça para cima, como se no céu houvesse um lugar de respostas, onde o passado esticasse a mão ao futuro ditando o presente. Porém, nada é constante. As nuvens escrevem lá em cima sem um único ponto. Volto a olhar em frente, na direcção que eu fiz. Ainda tenho aqueles passos que antevejo mas ao fundo, lá longe, numa espécie de vidro despolido há-de estar o limite do meu sentido, afastando-se, para me deixar passar. E o vértice de uma seta não alcançável, no seu movimento uniformemente acelerado mas no plano horizontal, a menos de um metro da estrada, onde as pernas caminham. E o ar sem atrito, porque o que está por vir já ganhou o seu espaço muito mais à frente. Mas lembro-me bem de pensar o contrário. Cenários de juventude. Com aquelas cores fresquíssimas. Cantos arredondados com tempo de angularem, horas para mergulhar num sonho em crescendo. Hoje sei que lá à frente a película das memórias se compromete. Sei que nada é absoluto. Se eu quiser, posso fazer o pino para mudar a minha perspectiva. Depende das estrelas que eu tiver para assentar os meus pés. What's in it for me?