sexta-feira, 15 de março de 2019

Morning Glow


Se eu escrevesse uma letra para acompanhar este piano, seria qualquer coisa a começar assim:

Olha mais de perto
são cinco peixes a dançar.

E eram mais ou menos os mesmos movimentos, lado a lado. Depois, separados, porque há sempre um a decidir primeiro dirigir-se à superfície. É a vida, era a vida. Lá fora, a tua cama desfeita, ou como dizer: a cama por fazer de lavado. Também imagino que, por causa disso, fosse preciso mais cuidado sobre o que houvesse a falar com dedos. E eu podia continuar a escrever: 

Olha um pouco mais atento
é o fulgor da manhã a chegar.

E é sempre preciso tempo para levantar. Como o sol se levanta sem pressa atrás dos prédios mais altos, se houver prédios altos. Eu gosto de cidades. E da condição edificada das cidades que se erguem para nos salvar. Gosto também de me comover com ruínas. Lembram-me que hoje somos outros a mais dos que já não estão. E a morte é sempre uma mudança de cor. Como o consolo do amor que às vezes sucede a paixão. 

Até que me contento
Por ficar só eu a olhar.

E, nesse momento, deixamos a água, a terra e todos os planetas. Porque era uma noite cheia de estrelas, mas das que cintilam bem. Depois dos terraços, depois dos telhados, depois das antenas dos aviões, depois dos foguetões, para lá dos cometas. Ali, no final, quando o piano já tem percussão a acompanhar.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.