segunda-feira, 25 de julho de 2016

Thinking About You

Tenho-me lembrado de um homem que lia um livro de música no metro de Paris. Mas o que ele lia eram mesmo as pautas. Ouvir a música no silêncio daquela maneira é mais ou menos igual a ver as cores do mundo através dos dedos sob o relevo do braille. Para esta comparação das coisas os franceses utilizam a palavra Pareille. Por outro lado, são felizes acasos de quem anda por aí, na rua, à espreita de viver coisas novas, irrepetíveis. Espero nunca mais me esquecer da forma como ele entoava a própria mão, em jeito de maestrino, enquanto folheava as pautas. Não tive presença suficiente para o fotografar com profundidade de campo capaz de resultar em algo que agora pudesse titular de fotografia; aquela imagem foi tirada com a coragem que me faltou, por isso não resultou com boa qualidade. O fotógrafo tal como o poeta, é também um grande fingidor:  talvez porque não lhes caber mais nada na sua essência repleta de vida, os melhores momentos de todos, aqueles que nos trazem água aos olhos, ficam quase sempre por registar.