sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Claire de Lune

Esta é provavelmente a música mais especial que conheço. Bonita de tão triste, fazendo-se alegre. E não há muito para dizer quando algo afiado nos afaga. Não há muito para dizer quando nos alenta existir no absurdo que é viver de acordo com o que deve ser. Porque sim e porque não. Posso, não posso. E, neste entretanto, vem a vontade de um carinho que magoa não dar. Ou acontece um longo respirar de barriga para baixo que sufoca. Ou, às vezes, até, um querer sufocar para respirar melhor a seguir. Querer de repente (sem consultar a razão) ser de outra matéria diferente. Não há muito para dizer quando o novo se faz doce. Apetece tocar mas não chegamos à lua. É claro como ela (lua) que não lhe podemos chegar. A lua na sua omnipresença a lembrar-nos o respeito das próprias limitações. Não ousei que se impressionasse como eu me impressionei com todos os meus sentidos. E tamanho brilho sem uma letra põe-me sempre a trautear versos que invento para mim.




Esta é provavelmente a música mais bonita que conheço. E os Lamb conseguiram a proeza de remisturar parte dela em Angelica. Juro que podia ter sido eu a pedir-lhes uma versão moderna de Claire de Lune para me regozijar. Será presunção da minha parte falar desta ideia descabida que a mim assenta? Em qualquer caso, a cada lâmina de luz surgida da faixa não quis enxergar vidros partidos. Olhava sem baixar os olhos. Confiante. Era o mesmo brilho da noite, das sombras opacas e do triunfo matinal que antecipamos como certo. Debussy publicou a composição em 1905, e quase um século mais tarde nascia então Angelica, sem voz. E sem se notar essa falta. Coisa própria da singeleza da arte que enche o espaço.


Uma versão que se não quisermos trautear podemos dançar.


Então dançamos. E sorrimos porque o doce se faz novo, na verdade do ciclo. Mas vai ficando escuro esse compasso. A lua cada vez mais clara utiliza em silêncio o tom peremptório com que nos assiste e, de resto, não fica nada por dizer.

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