segunda-feira, 12 de agosto de 2013

When You Wish Upon a Star


(numa noite de Dezembro, 
um amigo ofereceu-me duas coisas:
este céu e uma dívida eterna)

sábado, 10 de agosto de 2013

Let There Be Light

Sentamo-nos no chão do Terreiro do Paço em frente à fachada Norte da Rua Augusta e começamos a viagem no tempo com O Cuboespectáculo de Video Mapping 3D começou ontem e vai continuar A nossa História aparece ampliada sob a forma de um mural virtual. Imagens carregadas de movimento. Viriato em luta contra os Romanos, a batalha de Aljubarota, o terramoto de 1755, a náu que promete levar-nos à India, os grandes incêndios e o Marquês de Pombal de regresso para reerguer a cidade. 


Tudo isto ao vivo à distância de poucos passos. E o público aplaude. As noites estão quentes mas muito menos escuras. Todos os motivos são bons para colorir Lisboa mas, especialmente, esta semana: Fiat Lux.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Lá de fora, vêem-se bem os sinais Urbanos

via visibleearth.nasa.gov

Noite e dia a grande máquina avança. E as engrenagens são mecanismos simples, geralmente circulares, dentados, que funcionam aos pares. Basicamente, os dentes de uma roda encaixam nos espaços que intercalam os dentes da outra roda e o movimento acciona-se. É um facto que as rodas dentadas imprimem acção. Falta saber para onde seguiremos.

Ontem fechou a Livraria Sá da Costa, hoje morreu Urbano Tavares Rodrigues. Bem sei que estava velhinho mas, nesta hora ainda viva, pelo andar das engrenagens, parece-me que levamos gerações de atraso em tantas coisas que, por vezes, custa-me antever os bons sinais de amanhã. Ainda a propósito de tudo isto, os Múm regressaram com deambulações sonoras mais electrónicas e nada negligenciáveis: dizem que “todos somos rodas dentadas (toothwheels) na máquina da morte”. 


O curioso é que, por altura da edição do novo álbum “Smilewound”, anunciaram que o seu lançamento em Setembro também ocorrerá por meio de cassete. Depois do regresso ao vinyl, queremos recuperar ainda mais o passado, atrasar o futuro, ou, haverá sempre um movimento em cada sentido a tentar anular-se? O mundo de faz-de-conta pode ficar parado mas o outro é demasiado sério para se deixar para trás.

This door will never open
Why would it
We never tried to
Exterminating angel
The black hold of beauty
In a world of complete make-believe
There’s a chance to practice what we preach
In a world of complete make-believe
There’s a chance to practice what we preach
Throw the hammer
Burn the gasoline 
We’re all toothwheels
In the death machine.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Erik Satie e a Liberdade

Também há certas gaivotas que vivem em todos nós.




Em vez de Be de Neil Diamond, as Gymnopédies de Erik Satie podiam pertencer à banda sonora da estória de Fernão Capelo Gaivota. Aqui esquecemo-nos de pensar no grasnar agudo que produzem em terra, exactamente o mesmo ruído que ouvimos na simples presença da palavra “gaivota”. A narrativa é acerca de outra espécie diferente: menos previsível, dotada de coragem mas frágil. E, sem demoras, vai-se dirigindo um foco de luz a essa ave em particular. O piano rasga o silêncio e serve de suporte. As sensações são muitas. Entramos na estória através do invisível braço gigante que parece um bico forte de pássaro, misturamos a textura da pele, das penas e até das estações do ano, no entanto, talvez seja Primavera no início da obra de Richard Bach porque “Era de manhã e o novo Sol cintilava nas rugas de um mar calmo.” Apresentava-se uma ave irrequieta que não se conformava com a sorte das outras. E apetece logo ir espreitar-lhe de muito perto as pupilazinhas pretas e tentar ver para dentro, mas o piano já tinha começado a ouvir-se.  


Parte I : Gymnopédie Nº 1 
Esta composição vaticina o gnosticismo preserverante de um espírito desalinhado. Há nuances de melancolia porque tudo o que é mesmo bonito raspa sempre o coração. Podia ser uma manhã qualquer de um dia qualquer mas Fernão Capelo não era uma gaivota vulgar, por isso, o dia é exactamente aquele dia que lhe pertence e que tem de ser contado. “Ele” queria aprender coisas que as outras aves não desejavam saber. Interessava-se por voar mais alto, a maior velocidade e, outras vezes, mais devagar somente pelo gosto da ventura e, por isso, é banido do bando. A música de Satie que eu escolheria para encostar a esta narrativa espelha aquela gaivota destemida em acrobacias que se torna solitária. Tenta subir e voar, não consegue e volta a tentar. O compasso musical é impestuoso como a escalada da ave aos céus. O estado da ave é claramente invulgar. Quer ir mais além. Há nuvens. Sente-se o vento. Mas a chuva nunca vem. (A chuva dos livros traz sempre coisas tristes e esta estória é de esperança e alegria.) O tempo vai passando e os pequenos olhos não encontram presenças humanas. Em todo o caso, se calhar, lá em baixo (onde deve haver o mar) passa uma traineira com gente mas, provavelmente, não há ninguém. De repente a sorte muda e Fernão Capelo encontra um companheiro que o leva a ascender a outro lugar onde se sente compreendido.

Parte II : Gymnopédie Nº 2 
“Então o paraíso é isto” pensou. Agora todas as gaivotas estão em comunhão com a nossa. O prazer de voar é partilhado. O divino parece andar a poucos metros daquelas altitudes. São felizes por estar livres, iguais a si mesmas. Quebrando os próprios limites num lugar novo sem espaço e sem tempo. Porém, o coração continua fechado. "Fernão, continua a trabalhar no amor", dizia-lhe o mestre tentando fazê-lo perceber que a liberdade só existe no mesmo binómio que a compaixão. O seu sucesso seria tornar-se ele próprio professor e para isso tem de retornar ao seu antigo bando e espalhar esta sabedoria fruto da sua experiência. 

Parte III : Gymnopédie Nº 3 
Foi esse o novo e grande ensinamento que o fez observador do sítio original. “Fernão voou em círculo, devagar...“ e encontrou vários pupílos interessados na arte de voar pelo prazer de voar. Finalmente, só a capacidade de perdoar que é sinónima de libertação das regras o faz verdadeiramente livre. O caminho para a perfeição são os pensamentos que o deixam repousar suspenso no ar. E a liberdade é quando só o coração comanda. 

Erik Satie continuou a compor e as Gnossiennes vieram tirar a liberdade a muitas gaivotas que, como eu, tiveram de parar de voar para ouvir. 


Ainda hoje, quando muito, posso sentar-me na tábua que as cordas seguram da árvore, fechar os olhos e tirar os pés do chão porque sei que alguém me vai empurrar a seguir. 

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Vejam bem

"que não há só gaivotas em terra quando um homem se põe a pensar". Blackbird is watching.


Fez-me sentido mas, alternativamente, numa homenagem mais indirecta, o mesmo post poderia conter escrito: 

Canção de Embalar. Street Lullaby.

Forbidden Colours

Sentimos, pensamos e com tantas certezas deliberamos também o que achamos. Escolhemos o bom, afastamos o vil, cercamo-nos de quem nos protege e de quem dominamos. Agarramo-nos ao desejo. Beijamos auroras mil. Fazemos o verbo inteiro que inventamos. Acreditamos no vento e, a seguir, baralhamos e voltamos a partir, errantes. Reinventamos cores enquanto dançamos e, no final, sabemos que somos pálpebras gigantes.

E nisto, o mundo redondo, tremendo, meio vazio de dia e meio cheio de noite. Ao longe suspenso por um fio de silêncio. Lá dentro, forjando os destinos humanos e, a cada novo instante, rindo de todos tão alto. 

(my life believes)