As versões das canções são algo de extraordinário. Não haja dúvida. Assim como as asas invisíveis dos sapos ou as espirais que agarram as folhas aos cadernos. Mas a mim parece-me que só na música é possível vestirmos a farda do outro e fazermos o trabalho dele à nossa maneira e à nossa vontade. Depois, haverá quem goste e quem não goste. É só mais um valor a favor da linguagem sonora. E, claro, das artes. Mas agora não me estou a cingir à música, estou a evocar também a escrita literária, a pintura, a escultura, a arquitectura, a fotografia - embora neste ponto tente não me lembrar da Sherrie Levine em "After Walker Evans" -, e a continuar por elas adentro, naqueles espaços aconchegadinhos onde me sinto muito bem. Ou por elas afora, estendendo a cortina até outras profissões: por exemplo, noventa por cento do trabalho do ortodentista é artesanato com arame. É isto que eu quero dizer, que se tente esta perspectiva. Porque a Arte é uma parte acutilante que está em tudo. Um género de vértice que se inclina para cada direcção. Não necessariamente no sentido de cima. Já que o céu está frio e demasiado longe. E eu tenho comigo as coisas que eu gosto. E é-me fácil descobrir outras que estavam sentadas ao lado das minhas. É isto que acontece. Ligamo-nos mais àquilo que somos. Àquilo que admiramos. Assim é o amor: Admiração. Aqui não há versões, o que vai além do extraordinário, aliás, em linha recta. Entretanto, desço a persiana para (mesmo assim) dizer:
(- Chet,)
I like the way you work it.