terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Bonanza

«Tempo calmo, com vento fraco e mar tranquilo» assim diz o Houaiss. Mas o céu está em preto e em branco e desse cinzento cai uma chuva miudinha. Parece-me que o Inverno chegou sem obedecer ao calendário. E o que poderão interessar à Natureza tais convenções do papado de Gregório XIII? Que verdades acima do vento, do tempo, dos meses, da irregularidade dos dias de cada mês. Que noções feéricas, ancestrais, sobre a temperatura que a terra contém. Ditaram antes as árvores, mudando de botões de punho. E as folhas amarelecidas foram mirrando enquanto secavam, adventícias. Os passeios abandonados de Outono surgem agora lavados de fresco. Já não ouvimos os nossos passos da mesma maneira. Trocaram-nos as voltas para olharmos mais ao longe: experimentarmos o azul talássico do Atlântico; ou a neve alta dos Países Baixos que esconde todas as outras cores. São horizontes de bonança. A música tem uma batida imarcescível, contrária às folhas, contrária ao Outono. Acho que este Inverno terei um coração mais quente guardado no peito porque (mesmo que os meses demorem a passar) eu sei que esticarei o meu braço sob o nosso guarda-chuva quando virarmos a esquina de Abril.


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