Houve um pensamento infuso.
Que atrevimento da morte: levar-te...
Passam agora quase quatro dias.
Aposto que os animais,
a natureza inteira ainda em arrepio.
Depois,
o pensamento seguinte:
querer profundamente que voltes ao mundo.
Epifania-desastre-incêndio-milagre.
Porque tudo é transitório.
Cada sentido de uma beleza irrepetível.
Palavras fora do texto.
Linhas exaltantes de transparência.
E tu sabes que a morte não te encerra.
Sob a tua pena, tudo marfim e sangue e pele e cabelos muito lavados com o cheiro doce das crianças.
Agarrarei para sempre o teu génio-milagre. Eu e tantas outras mãos, tantos outros braços. Expectantes, em tronos de troncos, loucos, dedo a dedo imaginando que possas fundir-te a um Sol qualquer. Indestrutível num esplendor conjunto de fogo, de folhas, de risos, de iluminações negras e brancas. E possas mover depois a Terra de uma outra maneira. Tu já és certas cores do céu. Certos teoremas muito exactos onde se desenham os limites das nuvens. Certos fotões. Certos balões que sobem e deixamos de ver, no lugar de onde te debruçarias. Ou qualquer outra coisa absolutamente diferente. Absolutamente por inventar. E então estarás por ali. Sentado do tamanho de um número mais pequeno, sobrelevado, exponencialmente na minha recorrência. Alucinações, falangetas e falanginhas de reacção, inspiração. De cima do teu palco encerrado, de dentro do teu silêncio, tanto espectáculo, tanto ruído, tanto poema. Uma incompreensão sentida nos poros, exactamente como se sente o amor, mas ainda com mais gramática. Uma linguagem de séptimos sentidos. Tu és a púrpura. Uma membrana de seda, de asa. Uma rosa no fundo da cabeça. Abelha-rainha ou uma coisa muito mais masculina. Tu és muitas muitas janelas. Presentes que se carregam na mala. Memórias, com palavras de impossível tradução, letras, a tua, sem pontos finais; em perfeita simetria: HH